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No âmbito dos seus temas de investigação será de lembrar que Robert Durand se iniciou com o estudo da acção do segundo papa de Avinhão, João XXII, na diocese de Poitou, parecendo apontar para o prosseguimento da temática do papado de Avinhão, o que não veio a acontecer, prendendo-se antes à historiografia portuguesa, muito pouco conhecida em França, que mais nos interessa especificar. A publicação em 1971 do Cartulário do século XII do mosteiro de S. Salvador de Grijó, com mais de trezentos documentos, precedido de uma descrição codicológica e paleográfica e de um estudo institucional e dominial da instituição, tornou-se um instrumento de trabalho da maior valia científica para os estudiosos da história social, económica e religiosa desta época. E nele se preanunciava o seu particular interesse pelo estudo da economia rural e das sociedades camponesas que se consagra na sua tese de doutoramento. A obra Les campganes portugaises traça-nos o vasto quadro da paisagem rural, do povoamento e das estruturas de enquadramento de poder laico e religioso na larga espacialidade beirã e estremenha entre o Douro e o Tejo nos séculos XII e XIII. Conhece-se a composição do património dominial de nobres e da igreja a par da propriedade alodial, o seu aproveitamento agropecuário e técnicas de cultivo e o seu modo de exploração. Mas, com grande novidade, partindo da célula familiar, evidencia-se a génese das comunidades aldeãs em articulação com os poderes senhoriais que tanto as fomentam como contribuem para a sua desagregação, bem como se pondera a hierarquização social e o modo de vida dos trabalhadores da terra. A análise detalhada da coesão das comunidades camponesas, sustentada em solidariedades agrárias, judiciais, fiscais e religiosas, deixará uma ineludível marca na historiografia portuguesa que se reproduzirá múltiplas e subsequentes linhas de investigação sobre o espírito associativo, confraternal, paroquial e convivial das comunidades rurais. O Autor será ainda levado a pensar, num quadro comparativo peninsular e francês, o contexto do feudalismo e das estruturas senhoriais em Portugal em vários estudos – até em diálogo com a obra de José Mattoso – como não menos a complexidade da organização dos poderes nas vilas fortificadas fronteiriças. E a documentação portuguesa levou–o ainda a estar atento à antroponímia e à estrutura familiar dos homens nestes séculos da Plena Idade Média. Mas Robert Durand propôs-se mesmo dar a conhecer ao mundo francófono o longo passado do “rectângulo em branco” com que Portugal era figurado em muitos estudos consagrados à Península Ibérica, escrevendo uma História de Portugal, publicada em 1992. Com a grande sensibilidade face ao devir histórico dos portugueses, salienta as heranças civilizacionais romana, visigótica e islâmica, atravessa os tempos medievais e de expansão e os séculos das Luzes e da Regeneração chegando à República, pontuada pelo Estado Novo, pela emergência da Democracia e, por fim, pela chegada da “hora europeia” de Portugal. A obra do medievalista Robert Durand, na projecção de um olhar outro, formado no âmbito da escola francesa, sobre a história rural, relevando estruturas senhoriais e comunidades aldeãs em tempos da formação de Portugal, assume-se como uma marca indelével na historiografia portuguesa, que, nos anos 80, se consolidava neste campo de estudos da ruralidade. |
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