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A 31 de Janeiro de 1840, comentava o visconde: “E que direi da última obra de Mr. de Humboldt [Examen critique…, tomo V]! Os episódios, as notas, as digressões, as discussões no texto, nas notas, nos apêndices, são aos milhares. E como conceituam, os críticos cá por fora esta obra? Os jornais científicos e os relatórios académicos que o digam, apesar dos muitos reparos e observações que sobre este vasto trabalho se têm feito” (Visconde de Santarém, Correspondência do…vol. VI, 1919, p. 77). Alexander von Humboldt evidenciou-se pela recolha, colecção e interpretação de informação científica, localmente, ou através da sua rede de correspondentes espalhados pelo mundo. Construiu, dessa forma, uma obra multidisciplinar, inovadora, original, sólida. Uma das excepções parece ter sido a da história dos descobrimentos europeus, na qual a reunião de materiais, bebidos em escritores e académicos como Estancelin e Avezac, foi feita com uma metodologia menos rigorosa e crítica. Lendo fontes em castelhano e traduções francesas da cronística portuguesa, elaborou visões histórico-geográficas que se tornaram teses apriorísticas e indocumentadas acerca dos descobrimentos portugueses, nomeadamente, a da pseudo-prioridade dos normandos, dos habitantes de Dieppe e de Jaime Ferrer face à comprovada dos povos ibéricos dos portugueses. A obra, reactiva, mas respeitosa, do visconde de Santarém impressionou o sábio universal que foi Humboldt, o que não impediu o autor prussiano de persistir em tais visões (por exemplo, acerca das pseudo-viagens de Américo Vespúcio). O mundo científico-cultural franco-germânico adoptou, naturalmente, as leituras do génio do seu tempo, muito mais do que as do português, morto sem reimpressão dos seus livros essenciais das décadas de 1840 e 1850. Assim se perpetuam mitologias auto-renovadoras, geração após geração, sem aparente possibilidade de refutação. |
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