E vai mais longe. No seu entender: “os jesuítas concorreram intelectualmente para este ‘abrasileiramento’ do colono fazendo-se indianistas (...) Em vez de europeizar-se o selvagem, foi o branco que se indianizou (...)”. Segundo Calmon, os jesuítas possuiam a vocação de congraçamento, o que “explica parte da evolução nacional, pelo menos este Brasil mameluco, mestiço, harmonioso na aparente confusão étnica, afinal equilibrado e como veremos – quase homogêneo” (Idem, pp. 49-50).

Na época em que foram lançadas, as grandes sínteses de Pedro Calmon alcançaram significativa repercussão, talvez porque se destinassem, sobretudo, aos estudantes secundários e universitários. Basta lembrar que a História da civilização brasileira, teve três edições no Brasil apenas na década de 1930, sendo ainda publicada em espanhol, na Argentina, em 1937. Seja como for, sua fortuna crítica é bem modesta para um autor tão prolífico, traduzido em diversos idiomas e tantas vezes reeditado.

Nas últimas décadas do século passado sua opulenta produção historiográfica foi relegada ao esquecimento, em detrimento das interpretações de cariz marxista e das novas abordagens propostas pelo movimento de Annales. Calmon passou a ser percebido como um historiador superado, “de direita” e “nostálgico do Império” (REIS, 2008, p.21 e p. 85), cujas contribuições primavam pelo excesso de figuras de retórica.

Não obstante, a leitura de suas obras menos conhecidas revela algumas surpresas. Melhor dizendo, incursões por temas instigantes, que hoje em dia bem poderiam ser enquadrados nos domínios da história cultural, a exemplo do livro História do Brasil na poesia do povo, em que reune trovas de rua, músicas e críticas populares a personalidades da política e a acontecimentos marcantes da vida nacional. Do mesmo modo, em Figuras de azulejo. Perfis e cenas da História do Brasil, ele surpreende com textos que se assemelham a exercícios de micro-história, em que joga luz sobre aspectos do cotidiano da colônia, heróis anônimos e vultos históricos, costumes religiosos e tradições mundanas, além de comentar livros, obras de arte e descrever os amigos brasileiros do poeta Bocage, entre outros assuntos.

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