| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
Augusto Palhinha da Costa Dias foi um historiador que, como outros, encontrou grandes dificuldades no exercício do seu ofício. Desde os finais do século XIX e sobretudo na época da Primeira República, à prática historiográfica – no sentido etimológico de processo de escrita da história – como matriz do que define uma ou um historiador, acrescentou-se a docência da ciência histórica, quer em seminários, quer em aulas nas então recém-fundadas faculdades de Letras ou outros cursos de ensino superior. Mas a dinâmica autoritária da Ditadura Militar e depois do Estado Novo suscitou uma ruptura. De facto, motivos ideológicos impossibilitaram qualquer percurso no meio académico a opositores. Pelo contrário, os investigadores que aceitavam ou não manifestavam oposição à ideologia do regime conservador, podiam continuar a sua atividade. A docência era negada a pessoas que escreviam história, tanto nas faculdades como, às vezes, nas escolas secundárias. Augusto da Costa da Dias é disso um exemplo. Costa Dias nasceu a 12 de fevereiro de 1919, na aldeia de Trouxemil, perto de Coimbra, no seio de uma família da classe média ligada à pequena atividade agrícola e depois ao pequeno comércio. Era o penúltimo de nove irmãos, que passaram a sua infância em Arganil, depois em Coimbra já durante os estudos secundários. A sua saúde era frágil devido a uma doença óssea, que foi agravada por uma queda na Sé Velha de Coimbra que o deixou quase inválido de uma perna. Neste sentido, o seu percurso escolar, bastante acidentado mesmo quando a família se deslocou para Lisboa, foi sendo interrompido por internamentos prolongados em diversos sanatórios – como o da Parede, perto de Lisboa. Iniciou os seus estudos secundários em Coimbra, e veio a concluí-los já em Lisboa. A par da formação que foi completando, trabalhou em diversas áreas: como angariador de publicidade, vendedor comercial na empresa dos seus irmãos “Irmãos Costa Dias, Ldª” (que deixaria no fim da II Guerra Mundial, quando acabou a sua formação superior), publicitário na empresa Êxito, onde trabalhou com Alves Redol e Alberto Ferreira. Costa Dias inscreveu-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, terminando a licenciatura em 1954, com 35 anos. Logo depois, concorreu à carreira de professor liceal. Contudo, foi impedido de obter uma vaga, uma vez que era já, por esse período, vigiado pela PIDE devido às suas atividades ligadas ao Partido Comunista Português, no qual começara a sua militância com cerca de 20 anos. Costa Dias acompanhou este Partido até o fim da sua vida. Foi ele quem promoveu a adesão ao PCP de escritores como José Saramago ou António Modesto Navarro. Uma das suas raras experiências de docência ficou patente na criação de uma sala de estudos para adultos denominada “André de Resende”, que promoveu com Alberto Ferreira e José Marinho; mas, para contornar qualquer suspeita, que poderia acabar no impedimento do curso desse estabelecimento, este foi fundado pelas respetivas mulheres, usando os apelidos de solteiras. De tal forma que outros aspirantes a professores, em semelhante situação, como António Borges Coelho e outros mais, puderam lecionar nesta sala de estudos, exercendo uma atividade que lhes era negada no ensino oficial. |
|||||||||||||