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A sua obra histórica, iniciada na década de 1960, deve ser destacada pela originalidade que lhe conferiu. Primeiro, pela sua ligação à escola dos Annales – a sua biblioteca era constituída por obras de caráter histórico, político e partidário, ligadas ao comunismo – e segundo pela escolha das temáticas. Costa Dias deu uma atenção particular ao século XIX, período pouco estudado pela historiografia, por ser demasiado próximo cronologicamente à contemporaneidade, considerado por isso uma ameaça à esfera política. Da sua principal obra, A Crise de Consciência Pequeno-Burguesa, veio a ser publicada em 1962 um primeiro volume denominado O nacionalismo literário da geração de 90, sendo a sua escrita iniciada aquando da prisão do ensaísta na cadeia política do Aljube. O título deste livro denota desde logo uma perspetiva marxista com a referência à ideologia pequeno-burguesa. Valorizava o papel da cultura no campo ideológico, pretendendo mostrar como as manifestações culturais estavam sujeitas a condicionalismos de base estrutural, sociais e económicos. Neste livro, Costa Dias salienta o “caráter ainda inédito que, entre nós, conservam as investigações aprofundadas e sistematizadas sobre ideologias”, interessando-lhe “muito mais agitar problemas, levantar hipóteses, discutir ideias, certo de que, numa primeira aproximação, num primeiro contacto com matéria a tantos respeitos nova, esse deveria ser o caminho mais frutuoso”. O autor pretendia destacar, neste primeiro volume, o estudo de autores da chamada geração de 90, ou geração neogarreteana, como Alberto de Oliveira, António Nobre e Trindade Coelho, enfatizando o seu papel na construção de uma ideologia “pequeno-burguesa”, numa visão que caraterizou como estando virada para os valores do passado, apegada à tradição e ao ruralismo, e com influências do decadentismo e do simbolismo; mas não pode deixar de depreender-se como tal ideologia esteve numa origem próxima do caldo de cultura nacionalista do Estado Novo. Porém, um estudo mais vasto da ideologia burguesa não passou deste volume, já que o autor pretendia, seguindo um método regressivo, tão caro à perspetiva histórica marxista, abarcar a análise de um século de ideologia burguesa em Portugal desde o garretismo, ou melhor das ideias nacionalistas de Garrett desde a sua expressão vintista em defesa da revolução de 1820. A Crise de Consciência Pequeno-Burguesa foi traduzido em espanhol, na coleção “Ibérica” das edições Península, em 1966, revelando (não foram muitas as obras historiográficas portuguesas a obter tradução no estrangeiro). Costa Dias, depois de passar pela direção literária da Portugália Editoria, abraçou o cargo de diretor de publicidade na Latina-Thompson como acontecia a vários intelectuais mais ligados à esquerda e que acabaram por desenvolver trabalhos na área da publicidade, como o já referido Modesto Navarro, mas também Alexandre Cabral e Urbano Tavares Rodrigues. Este facto pode parecer paradoxal, mas justificava-se pela habilidade do uso das palavras e do seu significado e a consequente alienação do consumidor. Nesta empresa, contribuiu para a criação da secção portuguesa da Associação Internacional de Publicidade. Quando ocorreu o 25 de Abril 1974, Costa Dias foi proposto como professor numa assembleia geral na Faculdade de Letras de Lisboa, ato que o deixou muito honrado. No entanto, devido a problemas de saúde, não chegaria a entrar na Universidade, morrendo de doença prolongada, com 57 anos, na sua casa em Lisboa, a 9 de março de 1976. Apesar do fim da ditadura, nunca teve a oportunidade de abraçar o ensino, mas a sua importância para a cultura portuguesa ficou evidente. Chegou a concluir e a ver editado o seu último ensaio sobre um dos principais autores da literatura portuguesa do século XX: Literatura e Luta de Classes. Soeiro Pereira Gomes (1975), no qual, uma vez mais, pôs em relevo o papel da ideologia na corrente literária designada por Neorrealismo. |
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