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Uma das figuras retratadas no livro foi Francisca da Silva, negra, ex-escrava que se tornou poderosa na sociedade diamantina pelo relacionamento amoroso com o homem mais rico do Brasil à época, o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. Xica da Silva, cujos descendentes contrataram o advogado Joaquim Felício dos Santos para processos de partilha de bens, tornou-se uma das figuras mais conhecidas na literatura, cinema e teledramaturgia brasileira, sob vários olhares diferentes de distintos autores, a partir do século XX. Outro personagem de Memórias..., embora bem menos conhecido que Xica da Silva, foi Isidoro, escravo de um religioso que vivia da mineração. Acusado de contrabando, o proprietário teve o escravo confiscado e obrigado a trabalhar para a fazenda real, na extração mineral. Isidoro, no entanto, escapou da prisão para liderar uma tropa de garimpeiros escravos fugidos que tinha a simpatia da comunidade. Depois de anos de atuação ilegal, Isidoro foi preso e morto em 1809, ao sofrer três dias de torturas, por se recusar a entregar cúmplices. Assim nasceu o “mártir Isidoro” e a lenda de um grande tesouro de diamantes ainda não encontrado em Minas Gerais. A narrativa de Felício Santos foi construída a partir de fontes orais: “O que acabamos de narrar contárão-nos testemunhas fidedignas, imparciaes, oculares” (J.F. Santos, Memórias do Districto Diamantino, 1868, p. 339). Em Memórias...., a tese central de Joaquim Felício dos Santos é de que o Distrito Diamantino foi governado a partir de uma legislação bastante rígida, algo que teria sido agudizado com o regimento de 1771 de Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal). A Coroa, a partir das intendências, governaria a região de forma absoluta, com despotismo, o que pintaria o distrito como uma espécie de “colônia dentro de outra colônia”, termo também repetido no romance que mescla ficção e história, Acayaca 1729, escrito a partir de uma lenda indígena. Raymundo Faoro (1925-2003) foi um dos autores que se utilizou da tese deste “venerando historiador”: “O Regimento Diamantino (...) será o instrumento mais duro, cruel e tirânico dos três séculos de domínio metropolitano. Ninguém goza de nenhum direito, abolido o trânsito de pessoas, sujeitos todos à expulsão e prisão arbitrárias. A autoridade tudo pode, sem respeito a nada e a ninguém (...)” (R. Faoro, Os donos do poder, 1975, p.225). |
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