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Sem desconsiderar o despotismo português, a historiadora Junia Ferreira Furtado refutou a tese de “colônia dentro de outra colônia”, e de que os abusos e rigores dos administradores atingiriam a todas as pessoas, indistintamente: “Quando se diz que o Regimento e a concentração de poderes que ele possibilitou nas mãos do intendente eram as únicas causas das arbitrariedades e das injustiças cometidas dentro do Distrito, desconhece-se a realidade do resto da Colónia. Na Administração colonial, outros funcionários dispunham de enorme autoridade e regalias, agindo de forma discricionária e cometendo inúmeras arbitrariedades. Os que mais sofriam com este despotismo eram os mais pobres, pois a legislação estava quase toda voltada para a repressão e o controle desta massa de desclassificados e marginais que rondava todas as aglomerações urbanas da Capitania e gerava instabilidade” (J.F. Furtado, O livro da capa verde..., 2012, p. 72). A tese defendida por Joaquim Felício dos Santos estava embasada na seleção de autores cujos trechos de obras destacavam abusos dos funcionários da Coroa ao executar normas do Livro Verde: José Vieira Couto, importante morador da Vila de Tejuco, autor de Memórias sobre a Capitania de Minas Gerais: seu território, clima e produções metálicas, em 1799; o inglês Robert Southey, História do Brasil, vol. III, 1819; e o naturalista francês Auguste de Saint-Hillaire, de Viagem pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil, 1833. O enquadramento de isolamento e despotismo do distrito utilizado na narrativa de Joaquim Felício dos Santos estaria conectado com as disputas do grupo político deste autor em termos regionais e nacionais no Segundo Reinado, a partir do uso político do passado (E. L. Novaes, Joaquim Felício dos Santos...). 2014, p. 93). Ainda em Memórias..., o mais importante historiador brasileiro à época, Francisco Adolfo de Varnhagen, é caracterizado como parcial quanto à caracterização de governantes (Conde de Valladares) e sobre a origem da fundição de ferro no Brasil. Joaquim Felício dos Santos foi deputado no Segundo Reinado, senador na Primeira República e é patrono da cadeira nº 25 do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, criado em 1907. Sobre Memórias..., diz o historiador Américo Jacobina Lacombe que, “o livro conseguiu, acima de tudo, alcançar o tom de alta seriedade, aliado a um extremo bom-gosto. É, ao mesmo tempo, uma peça de história e uma jóia literária. ‘Reúne ao rigor da história o encanto do romance’, disse dele Capistrano de Abreu” (A. J. Lacombe, Introdução ao estudo da história do Brasil, 1973, pp 186-187). |
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