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Em 1908, aos 49 anos, publicou o primeiro de dois volumes que continuavam a 3.ª edição da História de Portugal. Popular e Ilustrada, de Pinheiro Chagas, a quem chamava “mestre” (já continuada por Barbosa Colen e Marques Gomes). Para escrever a quente sobre o regicídio, a editora tinha escolhido “um escritor brilhantíssimo na forma, ponderado nas ideias, independente e, portanto, imparcial em política, homem que tem o braço afeito a publicações desta ordem” (História de Portugal (Complemento)…, p. 6). Gallis não era identificado “para mais desembaraçadamente poder tratar dos complexos e variados assuntos que constituem este reinado” (Idem), o que não o impediu de vincar a desesperança acerca da política, “essa coisa abjeta, baixa, desqualificada, sem elevação moral, nem honestidade social, sem brilho nem decência” (Idem, p. 8), a revolta perante o analfabetismo e a crítica à inação de D. Carlos I, “dando-se à vida mundana mais do que seria justo e à dos negócios do Estado menos do que devia” (Idem, p. 10). O segundo volume (1909) apareceu já assinado. Verberou na História de Portugal a ideia de decadência das instituições, dos líderes e do povo. Numa sucessão de episódios ordenados cronologicamente, evidenciava uma mistura de factos e presságios, os primeiros envolvidos em ricas fontes de informação (discursos e decretos oficiais, manifestos, proclamações, notícias de imprensa, etc.). Mesmo defendendo que “para o historiador, a simpatia ou antipatia pessoal que lhe possam merecer as figuras (...) deve ser posta de parte para ceder apenas de justo direito lugar à crítica imparcial, serena, reta e honesta” (Idem,pp. 7-8), não evitou frequentes juízos moralizantes. Autor de uma narrativa laica, antimilitarista, liberal e nacionalista, inscreveu-se numa elite lisboeta de funcionários e jornalistas cultivadores de múltiplos géneros textuais. Fino observador da cidade – A Lisbonolândia, “capital do país dos Papa-Moscas” (Os Selvagens do Ocidente, p. 8) –, pisou o terreno de políticos e decisores, coristas, atores e ladrões comuns, sob o fundo de uma multidão pobre e analfabeta, em torno da qual, e por entre as “brumas de uma selvajaria inaudita onde por todo o país campeia o assassinato, o estupro, a embriaguez, a vingança política pessoal, o clericalismo boçal e reacionário, e as romarias a vários oragos de parva invocação” (Idem, p. 8), tinham decorrido os 19 anos de reinado de D. Carlos. |
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