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José Manuel Tengarrinha recorria no seu labor investigativo às várias valências dos saberes, procedendo a um questionamento analítico multidisciplinar. Desde cedo procurou desocultar a recepção da escrita, examinando diferentes vertentes, nomeadamente as questões em torno do leitor. Para além do acima citado texto sobre a novela e o leitor português (1973) regressou à reflexão em torno da Imprensa e opinião pública em Portugal em 2006. Três anos antes publicaria Da liberdade mitificada à liberdade subvertida: uma exploração no interior da repressão à imprensa periódica de 1820 a 1828. A história social, da qual seria um dos cultores, foi sempre um dos seus espaços de intervenção historiográfica. Dedicou-se ao estudo dos movimentos populares agrários e operários, muito em particular nos séculos XIX e XX, sempre pautando o seu discurso historiográfico pela precisão hermenêutica, usando precisamente uma terminologia que visava depurar, de um uso mais ou menos coloquial e algo indiscriminado, classificações como as atribuídas a movimentações sociais, onde por vezes se recorria a termos como tumulto, motim ou revolta, como se se tratasse de sinónimos. O próprio pensamento de José Manuel Tengarrinha neste campo foi evoluindo, sendo necessário ainda traçar a sua evolução. Ao exercitar ao longo de décadas o seu ofício de historiador, atendeu à tríplice dimensão do conceito de cultura, ontológica, antropológica e saber constitutivo, tomando a História como um iter, onde o conhecimento do passado se constitui como premissa nuclear para se entender o presente e se transformar o futuro. Atendeu a possíveis contaminações autorais e temáticas, procurando linguagens, públicos e impactos no quotidiano, e validando o objecto de estudo num processo que se institui como contínuo. Na sua constante revisitação dos seus objectos de estudo imprimiu sempre um olhar crítico e de permanente depuração interpretativa, sendo exemplo deste exercício as sucessivas edições da sua História da Imprensa periódica. Com efeito, na sua análise ecoam os “documentos culturais” que ganham inteligibilidade nas conexões tecidas tanto com as condições sociais da comunidade, de onde emanam, como com o público, ao qual eram destinadas. Consciente da porosidade existente entre a escrita literária e a escrita jornalística, José Manuel Tengarrinha distingue epistemicamente os campos. Não recorre a uma “hospitalidade acrítica”. Pelo contrário, toma todo o material investigativo compulsado ao longo de décadas, e complementa a informação histórica, obedecendo a uma declarada dimensão historiográfica. José Manuel Tengarrinha foi sempre um artíficie da História, manuseou a dimensão temporal, lendo criticamente os contextos gerais, interrogando-se como sujeito histórico, atendendo ao detalhe marcado por uma “nervosidade do processo social”, como gostava de categorizar diferentes conjunturas e ritmos evolutivos. Até ao derradeiro dia, o de 29 de junho de 2018, procuraria intervir activamente na esfera pública. |
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