Jacques Marcadé, nascido numa aldeia gascã da região das Landes, e filho de professores da escola primária, prepara em Paris e obtém a Agrégation d’Histoire (exigente concurso nacional de recrutamento de professores do Ensino Secundário). O tema de Mestrado que lhe tinham proposto, sobre as relações franco-inglesas no século XVIII, tinham-no levado a interessar-se pelo Marquês de Pombal, personalidade criticada quer do lado francês quer do lado inglês. Decide aprender o português, parecido com o gascão marítimo (ou negre) da sua infância, e escolhe como assunto da tese de Doctorat d’État a figura de Frei Manuel do Cenáculo, numa perspectiva inicial de sociologia religiosa. Depois de exercer como professor no Lycée de Poitiers, é recrutado pela universidade da mesma cidade em 1964, até obter a cátedra de História moderna em 1976, dirigir depois o departamento de História, ser eleito Decano da Faculté des Sciences humaines et des arts de 1980 a 1983, e acabar aí a carreira em 1995.

Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas, évêque de Beja, archevêque d’Évora (1770-1814) é um grosso volume, resultado de um impressionante trabalho de pesquisa nos arquivos portugueses, Torre do Tombo, Biblioteca da Academia das Ciências, Arquivo Municipal de Évora, Biblioteca Municipal de Beja, Archivio secreto Vaticano, e quantas bibliotecas foram necessárias à elaboração dessa monografia, que não só considera a bela figura do bispo de Beja mas a situa na vida concreta das dioceses que ocupou a partir de 1770. Depois de evocar a primeira parte da vida do conselheiro de Pombal, como Provincial da Terceira Ordem Regular de São Francisco e Presidente da Real Mesa Censória e da Junta da Providência Literária, Marcadé dedica a maior parte do estudo às realizações concretas do prelado, retirado no Alentejo depois da crise de 1777. Em pano de fundo, o quadro físico e humano (apoiado em estatísticas que o próprio Cenáculo intentou reunir a partir do número das “pessoas de sacramento”), e a situação moral e material do clero secular e conventual e dos fiéis. É sobre essas bases que se contempla a acção pastoral militante do futuro arcebispo de Évora, cujo perfil é analisado numa perspectiva essencialmente espiritual.

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