É possível afirmar que trilhou o caminho indicado por Jaime Cortesão, destacando o papel de Portugal no processo global de expansão marítima e, em meio aos mares nunca antes navegados, a formação do Brasil. Mesmo que se considere o acento maior colocado pelo historiador português no desenvolvimento da civilização ocidental, e pelo historiador brasileiro no enraizamento do capitalismo, o caminho aberto pelas interpretações de longa duração e de grandes estruturas foi a inspiração maior dos dois autores.

No mesmo sentido, acompanhou a preocupação de Vitorino Magalhães Godinho com os estudos que apontassem os elementos condicionantes da nação expansionista em relação às regiões visadas e/ou conquistadas como critério para compreender as formas de produção e trabalho que se estabelecem a partir dos primeiros contatos e nas relações posteriores. A advertência tomada ao português aparecia já em um artigo de 1957 intitulado “Colonização e desenvolvimento econômico”. Em seu Doutorado, defendido em 1973 e intitulado Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808), a articulação fina entre essas leituras na formulação do conceito de Antigo Sistema Colonial, ofereceu aos leitores uma explicação da expansão marítima e da colonização do Brasil dela decorrente, como elementos do processo de acumulação primitiva de capital que criaria os fundamentos para a industrialização e o enraizamento do capitalismo no mundo contemporâneo. Tratava-se, no seu entender, de um sistema criado a partir do século XVI, cujo desenvolvimento no século XVIII criou as condições para sua própria superação, que se emblemou na abertura dos portos brasileiros às nações amigas em 1808 e, no limite, em reflexão que desenvolveria em outros textos, na independência do Brasil em 1822. Desta forma, sendo o Brasil fruto da colonização europeia, sua independência também se inscreveria nos quadros maiores de crise do Antigo Regime europeu, que gestara os processos de colonização conforme estudados pelo autor.

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