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O fio condutor das investigações de René Pélissier, globalmente inéditas na época, consistiu em desconstruir o “mito dos cinco séculos de colonização portuguesa” (Mesquitela Lima, “À propos de deux ouvrages”, 1980: 512), pondo em evidência a teoria segundo a qual a“África lusófona” só chegou a ser verdadeiramente conquistada e, por conseguinte, colonizada a partir do início das últimas décadas do século XIX. Nesse âmbito, demonstrou como “a primeira idade” (Pélissier, Les campagnes coloniales du Portugal, 2004: 21) da presença portuguesa, tanto na Ásia como em África, alicerçada nas feitorias e no comércio de escravos, ocupou apenas uma infinitesimal parte dos territórios que acabariam por ser efetivamente colonizados a partir da segunda metade do século XIX. Do mesmo modo, o historiador pôs em destaque os conflitos que permanentemente existiram a partir dessa época entre Lisboa e as populações colonizadas. Contestando o enfoque que os anos de 1961-1974 colocaram nos estudos relativos à “Guerra do Ultramar”, René Pélissier defendeu assim uma outra tese original: a de que a deflagração de 1961, particularmente em Angola, não passara da última etapa de um ciclo de perto de cem anos de guerras de resistência à presença portuguesa. Nessa ótica, acabou também por concluir que o 25 de abril de 1974 fora tão somente o ponto final de um projeto colonial que falhara sucessivamente durante a Monarquia Constitucional, a Primeira República e o Estado Novo, por falta de recursos económicos, militares e sociais para acompanhar em África a dinâmica colonizadora das grandes potências europeias. O estudo dos cem anos de recorrentes guerras luso-africanas, também permitiu a René Pélissier demonstrar como, reproduzindo as velhas práticas da construção do império marítimo do século XV, a colonização portuguesa do século XIX, em particular de Angola (id. 1979) e Moçambique (id. 1984), assentou na negociação junto das autoridades autóctones, e, por outro lado, na colaboração das elites locais descendentes da expansão lusa no continente durante os séculos XV e XVI. Deste modo, o historiador sublinhou a importância capital das elites mestiças na administração colonial portuguesa do século XX, assim como a sua rotura progressiva com Lisboa e nascimento no seu seio dos movimentos independentistas (1979, 1984, 2004). |
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