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Alicerçando a sua investigação num colossal volume de fontes consultadas, nomeadamente no Arquivo Histórico Militar e na Sociedade de Geografia de Lisboa, René Pélissier é, em suma, na historiografia sobre o império português, o primeiro autor de uma pormenorizada e ainda atual história das centenas de campanhas colonizadoras levadas a cabo por Portugal a partir de 1848 e, nesse âmbito, o autor que abalou de facto o “mito” – componente importante dos velhos estereótipos do Estado Novo, tal como das palavras de ordem dos movimentos africanos de libertação – dos cinco séculos de colonização portuguesa em África. Por outro lado, ao descrever com minúcia as recorrentes revoltas contra a autoridade portuguesa, iniciadas logo na segunda metade do século XIX, assim como as consequentes operações de pacificação empreendidas por Lisboa e a, muitas vezes subestimada, ou mesmo ignorada, violência extrema das mesmas durante a Primeira República e no início dos anos 1940, pelo Estado Novo (Id., Les campagnes coloniales du Portugal, 2004: 233-310), René Pélissier também ajudou a desfazer outro lugar-comum importante da historiografia nacional do século XX: o cliché dos “brandos costumes” colonizadores dos Portugueses. Do mesmo modo, desafiando a retórica dos movimentos independentistas, o historiador não deixou de evidenciar como a gesta desses movimentos passou, bem antes dos anos de 1960, pelo fomento de escaramuças, acompanhadas de eventuais massacres de civis. Cabe finalmente referir o gigantesco trabalho de bibliógrafo conduzido por René Pélissier a partir dos anos 1980. Seguindo uma orientação metodológica baseada no depoimento de todo o tipo de fontes impressas e na convicção de jamais dever limitar as suas investigações a fontes escritas na língua oficial do país estudado, o historiador publicou, pois, uma série de livros onde rastreou e examinou todos os estudos sobre a colonização e descolonização dos países da África lusófona e de Timor (cf. 1981, 1991, 2006, 2015 e 2017). Por exemplo, um dos mais recentes, Angola. Guinées. Mozambique. Sahara. Timor, etc. Une bibliographie internationale critique (1990-2005), oferece, com mais de 1700 resenhas, uma bibliografia comentada de todos os trabalhos publicados a nível internacional sobre os impérios contemporâneos de Portugal e Espanha em África e na Ásia. Quanto ao último em data, Le Sud-Angola dans l’Histoire.Un guide de lectures internationales (2017), recenseia e avalia, ordenados por temas e épocas, cerca de 1200 estudos internacionais, dedicados ao sul de Angola. Le Sud-Angola permite assim destacar o estatuto paradoxal de uma região angolana, essencialmente desértica e ignorada durante largos séculos pelos Portugueses, que passou, no decorrer do século XIX, a situar-se na “linha de fratura” entre potências coloniais como a Inglaterra, a Alemanha e a França e, mais tarde, um dos cenários da Guerra Fria. Trata-se, sem dúvida, de mais um volume notável que vem completar uma obra monumental sobre o “terceiro império” português; uma obra escrita, ao longo de cinco décadas, por um “desbravador incansável da história político-militar do império português da segunda metade do século XIX e do século XX” (Cahen, “Les campagnes coloniales du Portugal”, 2007: 215). |
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