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Parte dos trabalhos finais de Rodrigues Cavalheiro, já durante a década de 1970, consistirão em comentários, reedições anotadas ou apologias e defesas do pensamento de António Sardinha (será, refira-se, em conjunto com Hipólito Raposo, um dos promotores incansáveis das edições póstumas de vários dos seus trabalhos). Veja-se, por exemplo, a publicação em 1968 de “Um inédito de António Sardinha sobre a Monarquia do Norte”, na revista Sulco ou, mais impactante, a polémica que em 1972 mantém com Franco Nogueira e com Pequito Rebelo, seu antigo correligionário do IL, acerca do hispanismo, nas páginas de O Debate e que será posteriormente vertida para o livro António Sardinha e o iberismo: acusação contestada (1974). Nesta, Cavalheiro sustenta a tese hispanista de Sardinha, de uma equiparação entre Portugal e Espanha enquanto bases em pé de igualdade de uma civilização ibérica de índole transnacional, face às críticas de Franco Nogueira, que recuperava o velho receio de que a aproximação ao vizinho ibérico conduziria “inevitavelmente, inexoravelmente, à submissão, à absorção, à diluição de Portugal na Península espanhola, e só espanhola.” (António Sardinha e o iberismo…, p. 76). Cavalheiro, de resto, tinha acompanhado à distância parte da construção das ideias hispanistas por parte de Sardinha, como o atestam uma série de cartas trocadas com o ideólogo do IL entre 1922 e 1923, em que lhe vai dando conta da forma como aquelas iriam “ganhando terreno” (Carta de 25.04.1922, Espólio A. Sardinha, Biblioteca da UCP). Não quer isto dizer que, ao longo da vida, em especial nas décadas de 1940 e 1950, não tenha publicado estudos com substância historiográfica, como sejam No centenário de João Franco (1956), D. Carlos I e o Brasil (1957), A evolução espiritual de Ramalho (1963) ou João Franco e os intelectuais do seu tempo (1963). Em todo o caso, em todos, de forma mais ou menos matizada, é perceptível uma linha de abordagem historiográfica que, ora é apologética, ora pretende rever a narrativa histórica de um determinado ponto de vista – o da historiografia oficial do regime, nacionalista e mitificadora (por exemplo, no opúsculo Infante D. Henrique, de 1948) e que, em muitos aspetos, se aproximava da perspetiva que ainda nos anos de 1920 assumira nas páginas da Nação Portuguesa. Embora não deixe de, ocasionalmente, divergir desta linha – por exemplo, na referida polémica iberista – os trabalhos de Rodrigues Cavalheiro estarão, quase sempre, em grande medida alinhados com o ideário conservador do Estado Novo, por um lado, mas também com o desígnio de apresentar acontecimentos e personagens do passado como modelos de valores civilizacionais a recuperar (ou a manter) refletindo, no fundo, a sua base formativa. |
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