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Será, porém, nos seus trabalhos plenamente ‘regionais’ — as diversas formulações no âmbito da Geografia de Portugal, a participação no Guia de Portugal da Biblioteca Nacional, e as monografias regionais, por ex. Ribatejo (contributos geográficos importantes para o tema crucial da ‘autonomia nacional’ que entretanto se desenvolvia no âmbito da História de Portugal) — que uma concepção próxima do ‘tempo longo’, espesso, rico — e ‘histórico’ —, se torna dominante. É o ‘tempo da paisagem’, da articulação secular entre a ‘terra e as gentes’, que em cada região adquire a expressão mútua da função ambiental e dos símbolos da civilização. Sem citar os autores que entretanto dirigem esta alteração ‘paradigmática’ na Geografia internacional, pressente-se a influência da escola francesa de Geografia que, partindo do exemplo de Vidal de La Blache e seus Principes de Géographie Humaine, terá no historiador Lucien Febvre um dos principais cultores na área da História. A herança de Silva Teles, nos âmbitos institucional, profissional e mesmo pessoal, é vária e de alcances diferenciados. Como responsável da área da Geografia no Curso Superior e, após a República, na Faculdade de Letras de Lisboa, Silva Teles formou a primeira geração de professores habilitados a ensinar Geografia nos liceus e chegará mesmo a publicar uns Elementos de Corografia Portuguesa para o ensino elementar, livro desenvolvido e actualizado mas que estranhamente a tutela não aprovará. A Geografia portuguesa deve a Silva Teles a institucionalização universitária e, associadamente, a delimitação precisa do seu objecto de estudo (Orlando Ribeiro, seu aluno e substituto na Universidade de Lisboa, não hesitará em associar o seu nome a Bernardino de Barros Gomes e Amorim Girão como um dos ‘fundadores’ da Ciência geográfica em Portugal), dentro de um conceito naturalista de influência alemã e ramificações estado-unidenses —, libertando-a do lastro não-científico com que a tradição enciclopédica, recreativa ou exploradora dos séculos anteriores a vinha entorpecendo. A ‘ideia republicana’, a valorização da ‘grei’ e a atenção à instrução popular estão conspicuamente presentes na sua vida profissional e cívica. Em 1906 publicará o já referido Elementos de Corografia, destinado especialmente à instrução escolar elementar. Mais tarde, no âmbito da actividade da Liga de Acção Nacional, participará no primeiro número da revista Pela Grei, dirigida por António Sérgio, onde elogiará a forte ‘construção orgânica e notável plasticidade’ do povo português ‘que, apesar de tudo, resiste à desorganização e à incompetência que presidem à nossa administração’ (1, 1918, p, 1-10). Após a passagem decepcionante pelo mundo da decisão política — será, em 1929, ministro da Instrução por alguns dias, num governo em que Salazar se afirma já como figura dominante —, é um Silva Teles mais recolhido que vemos dedicar muito do seu esforço intelectual à observação mais próxima e demorada de Portugal e à interpretação da fisionomia diferenciada das suas paisagens. É o tempo da contribuição para o Guia de Portugal e da publicação, em 1929, de Aspectos Geográficos e Climáticos [de Portugal], para a Exposição Portuguesa em Sevilha, obra de conjunto que constituirá, até à publicação, em língua alemã, dos primeiros e inovadores trabalhos de Hermann Lautensach, a síntese mais elaborada da geografia do seu país. |
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