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Em Março de 1934, Abel Salazar parte para Paris, indo trabalhar com o professor na Faculdade de Medicina de Paris Christian Champy (1885-1962), pioneiro da histofisiologia e da endocrinologia sexual. Esse exílio parisiense, de meio ano, é importante para o seu percurso intelectual e cívico. Aí percebe o grande interesse pelo neopositivismo vienense; é no país de Comte que se realizará em 1935 o Congrès International de Philosophie Scientifique e AS lerá avidamente as traduções francesas de textos desse movimento; AS virá a divulgá-lo, escrevendo uma cinquentena de artigos sobre “O pensamento positivo contemporâneo”, num estilo algo caótico e dogmático. António Sérgio dirá ser má divulgação das ideias, ao omitir as dificuldades e críticas dos problemas filosóficos de que só as conclusões são apresentadas, o que gerará uma curta polémica. AS interessar-se-á também pelas actividades do Centre de Synthèse, dirigido por Henri Berr, que juntava sábios de todas as áreas do conhecimento numa perspectiva que se queria unitária. De facto, no seu livro A Crise da Europa (1942), AS cita abundantemente livros da colecção, iniciada em 1920, Bibliothèque de Synthèse historique, L'évolution de l'humanité. AS, em Paris, vai colaborar em várias associações, caso da Union Rationaliste, e constata directamente as tensões políticas e económicas. A Alemanha, a Itália e a URSS têm então regimes totalitários. No ano de 1934, como efeito da Grande Depressão, o desemprego está em alta em França. A 6 de Fevereiro, a extrema direita anti-parlamentar manifesta-se em Paris; da repressão do motim resultam dezenas de mortos e milhares de feridos e a queda do governo Daladier; a Esquerda interpreta o motim como prova do perigo fascista e organiza contra-manifestações; a 6 de Março cria-se o Comité de Vigilância dos Intelectuais Anti-fascistas; o re-agrupamento das Esquerdas conduzirá em 1936 ao governo da Front Populaire. O livro Paris em 1934 de AS, dá sinal dessa situação. Se AS vem a combater ao lado de militantes comunistas contra o fascismo, a sua reflexão favorece mais uma postura relativista, conformista, contrária ao voluntarismo otimista; em acordo com o seu paradigma biologista, a crise europeia resulta de um processo determinista e inexorável de evolução de uma civilização – todo o organismo ao atingir o seu limite de crescimento e diferenciação, definha e morre. AS escreverá uma série de artigos sobre a crise europeia (1936-1938), nos quais propõe uma “teoria bio-mecânica da história”. Aí extrapola a biotipologia de Kretschmer, para a interpretação da psicologia social. Desde a sua dissertação de 1915, AS cuidava do estatuto dos saberes que envolviam variáveis humanas e/ou cujas leis deterministas se ignorava. Aproveitando o critério de verificabilidade, dador de sentido a uma proposição para os neopositivistas, AS distinguirá entre ciência e proto-ciência; a história e a sociologia são proto-ciências dado dependerem do “pensamento psicológico”, distinto do “pensamento lógico”; aquele é exemplificado no pensamento primitivo no sentido de Lévy-Bruhl, na literatura, no pensamento metafísico, etc. |
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