Joaquim Bensaúde nasceu no seio de uma família hebraica que migrou no século XIX de Marrocos para a ilha de S. Miguel, nos Açores, onde se estabeleceu e veio a criar uma vasta cadeia de negócios diversificados. Sabemos que seu avô, Abraham Ben Saud, ali se estabeleceu em 1818 ou 1819, tacteando uma forma de vida à qual o espaço marroquino oferecia cada vez mais dificuldades, e à qual a Europa abria os braços, depois da Revolução Francesa e, sobretudo, depois do vendaval napoleónico que terminou em 1815. Mesmo em Portugal – onde as perseguições aos judeus tiveram uma ferocidade enorme nos séculos XVI e XVII – a atmosfera abria-se aos filhos de Israel, com ventos de tolerância religiosa e, sobretudo, novas concepções sobre a economia e a riqueza das nações, que entendiam o desenvolvimento como o resultado do comércio livre e da concorrência.

Abraham Ben Saud obteve a nacionalidade portuguesa em 1830, e a carta de naturalização indica-o como Abraham Bensod, um nome que a língua portuguesa rapidamente arredondou à medida do seu conforto vocálico para o apelido de Bensaúde. O seu filho mais velho ainda nasceu em Casablanca, mas os restantes já viram a luz em solo açoriano integrando a segunda geração da comunidade israelita recém-chegada, transbordando a energia inerente à convicção de estar a inaugurar uma nova era.

O grande obreiro do empório Bensaúde e o responsável pela educação cultural e formação técnica dos filhos seria José Bensaúde, o filho mais novo do patriarca da família e pai de Joaquim Bensaúde. Digamos que foi o exemplo de um homem fascinado com a ideia de desenvolvimento própria daqueles tempos, que soube amar a cultura e a vida, entendendo-a como um processo de valorização permanente, com um instrumento fundamental no livro e no estudo. José Bensaúde mostrou um esmero muito particular na educação dos seus filhos, levando-os a estudar no estrangeiro, e escolhendo a Alemanha para o fazer, por conselho de Antero de Quental. Em 1874, a mulher e os filhos estabeleceram-se em Hanôver, onde Joaquim frequentou a Escola Técnica Superior, obtendo o diploma de engenheiro civil em 1884. Com esta qualificação profissional trabalhou em Londres, em Cette (França) e, a partir de 1890, em Lisboa.

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