| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
FAORO, Raymundo | |||||||||||||
Para Faoro, a história de Portugal ocupa uma indiscutível centralidade nos problemas políticos e sociais existentes no Brasil, compondo uma história de longa duração, que atravessa os seis séculos que separam o reinado de D. João I e o governo de Getúlio Vargas. A tese central de Os donos do poder é a de que a formação de um Estado absolutista precoce em Portugal abriu caminho para formação de um sistema patrimonialista, reforçado pela abertura marítima, que, por sua vez, contribuiria para desconstruir os traços de aristocracia feudal. Nesse contexto, não era a posse da terra que nobilitava, mas os cargos e postos da burocracia estatal, fazendo com que o estamento, inicialmente aristocrático, se burocratizasse. Constituindo-se em uma comunidade, o estamento burocrático agiu no sentido de preservação dos seus interesses particulares, o que reforçava a dimensão patrimonial do Estado português e, por correspondência histórica, brasileiro. Para Faoro, paradoxalmente, os mesmos elementos que permitiram a formação de um precoce capitalismo comercial em Portugal — um capitalismo politicamente orientado, no qual as atividades mercantis estavam subordinadas às necessidades estatais — inviabilizaram, séculos mais tarde, a formação de um capitalismo industrial, cuja autonomia das classes sociais frente ao Estado seria condição indispensável, o que contrastava com o arcaísmo da estrutura social portuguesa. Os conceitos de patrimonialismo e de estamento burocrático, as raízes ibéricas dos vícios da cultura política brasileira e a visão da tendência histórica à centralização do poder no Brasil desde o período colonial são temas problemáticos e ainda muito caros à historiografia brasileira. Pesquisas sobre a burocracia no Império, como as elaboradas por José Murilo de Carvalho, observam que o quadro era mais fragmentado do que pareceu evidenciar Faoro. Uma série de autores, como Fernando Henrique Cardoso, pondera que houve certo exagero na afirmação de persistência da elite burocrático-estamental ao longo da história brasileira, a ponto de transformá-la em motor da história do país. Além disso, um dos principais questionamentos levantados pelos seus críticos deve-se à tese da existência de uma total autonomia do estamento-burocrático e do Estado frente às classes sociais e aos interesses económicos. |
|||||||||||||