O Bulletin des Études Portugaises, criado em 1931, em parceria com a Universidade de Coimbra, publica logo no primeiro número dois artigos de Hourcade, Panorama du modernisme littéraire en Portugal, e La seconde génération de Coimbra et la revue A Folha (1868-1873), início da sua colaboração regular com crónicas e recensões. A estada conimbricense de Hourcade também deu lugar a um curto e belo ensaio, L’esprit de Coimbra, publicado em 1937 nessa cidade, em que celebra a continuidade histórica secular da universidade.

A partir de 1936 o tempo político é marcado em Portugal pelo apoio de Salazar aos falangistas logo que começa a guerra civil de Espanha, e sobretudo pela neutralidade portuguesa declarada em 1939 em relação ao conflito - que desencadeou a II Guerra Mundial - entre a França e a Alemanha. A situação do corpo diplomático francês não é fácil, tanto mais que as celebrações do Congresso do Mundo Português de 1940, inauguradas a 23 de Junho - o dia seguinte ao Armistício, e cinco dias depois do Appel du 18 juin de De Gaulle - implicam mensagens de várias entidades francesas, que evitam prudentemente imiscuir-se na actualidade política portuguesa.

É nesse âmbito que Hourcade foi instado a traduzir vários discursos de Salazar susceptíveis de interessar o Maréchal Pétain, num livro composto no fim de 1938, e que saiu em França publicado pela casa Flammarion, com visto de Fevereiro de 1939, ou seja antes de começar a guerra franco-alemã. Também se publicou sobre o Congresso em 1940 um número especial dos Cahiers du Sud, apoiado pelo SPN e António Ferro, com Introdução de Raymond Warnier (na altura director do Institut Français de Lisboa), e prefácio do próprio Salazar. Pierre Hourcade nesse número escreve um precioso artigo intitulado La vocation universaliste du Portugal - tópico caro a historiadores portugueses como Jaime Cortesão e Magalhães Godinho - onde define o país de Camões pela tensão entre permanência e movimento, pelo “ser” mais que pelo “fazer”, sublinhando que as Descobertas não dependeram só de um condicionalismo geográfico-histórico, antes da necessidade definitiva de estar “présent au monde”. E opõe a seguir a noção de império à de expansão, diferenciando assim o transitório do duradoiro, antes de salientar a propensão afectiva dos portugueses, embora apegados ao torrão. Mas para Hourcade, o universalismo parece proceder do conceito inicialmente católico de fraternidade humana solidária na Terra.

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