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Embora os seus trabalhos e centros de interesse abrangessem outras literaturas, culturas e épocas, tendo cultivado disciplinas como, entre outras, a filologia, a linguística, a literatura comparada, ou a sociologia da literatura, Jacinto do Prado Coelho sempre atribuiu a primazia à literatura portuguesa dos séculos XVIII a XX, tendo revisitado frequentemente os autores abordados nos seus trabalhos de maior fôlego. Isso mesmo se comprova, a partir de 1965, com a edição das Obras de Camilo Castelo Branco, com a organização das Obras Completas de Teixeira de Pascoais, que ficariam incompletas por motivos alheios à sua vontade, e com diversas edições de inéditos pessoanos, entre os quais o Livro do Desassossego em 1982. Planeou e dirigiu um Dicionário das Literaturas Portuguesa, Galega e Brasileira, publicado inicialmente em fascículos, em 1956, e posteriormente reunido em volume em 1960. Reivindicando “uma consciência mais perfeita da unidade cultural dos três povos de língua comum”, esta obra pioneira assumiu um cariz deliberadamente histórico-literário e foi sendo reeditada e ampliada, nela se incluindo numerosas entradas de sua autoria. Na segunda edição, em dois volumes, de 1971, o escopo de um trabalho tornado imprescindível passa a abranger também a estilística literária e a aprofundar a atenção consagrada à literatura brasileira. Após o 25 de Abril de 1974, Jacinto do Prado Coelho empreende uma profunda revisão do dicionário, para o qual convida novos colaboradores, sem no entanto ter conseguido dá-lo por terminado antes da sua morte em 1984. Mas a tarefa estava adiantada, e, após algumas hesitações, viria a ser concluída nos primeiros anos do século XXI, com três volumes de actualização, que lhe acrescentam, nomeadamente, as literaturas africanas de língua portuguesa e têm como coordenadores Ernesto Rodrigues para a literatura portuguesa e Pires Laranjeira para a literatura brasileira e as literaturas africanas. Em 1961 surge a colectânea de ensaios Problemática da História Literária, que engloba artigos de feição variada, abrangendo um período de mais de quatro séculos. No prefácio à 2ª ed., revista e ampliada, Jacinto do Prado Coelho faz um balanço e um mea culpa sobre as perspectivas teóricas e metodológicas por si adoptadas ao longo do seu percurso: “tenho sido amadoristicamente historiador da cultura, biógrafo, psicólogo; e dediquei-me à crítica imediata (necessariamente impressionista ou intuitiva) e fiz até impressionismo fora da crítica literária”. Na verdade, situado entre a história literária, tal como o Romantismo a concebera, e a reacção consubstanciada nas diversas teorias que o séc. XX lhe opôs, com o propósito comum de conferirem primazia à condição verbal da literatura – estilística, new criticism, formalismo russo, estruturalismo, semiótica – o A., atento já à estética da recepção, e sobretudo a Jauss, com a sua ênfase na relação obra-leitor, conclui que os diversos níveis e modos podem conjugar-se “num projecto global de estudo da literatura” em que a crítica converge com a história, e sincronia e diacronia se articulam, cabendo ao crítico, impelido “pelo amor da literatura, prolongado no desejo de a conhecer cada vez melhor”, mostrar-se consciente dos seus limites e da fragilidade do seu labor. |
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