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Duas outras colectâneas de ensaios se seguiram: A Letra e o Leitor, de 1969, e Ao Contrário de Penélope, de1976. Na primeira, onde reúne mais de uma vintena de estudos sobre autores que vão de Camões à poesia contemporânea, o A. defende que “no verdadeiro acto de crítica necessariamente se conjugam a intuição a reflexão e a análise”, em proporções variáveis consoante os críticos, podendo estes ser mais ou menos racionalistas ou subjectivistas. Assumindo que os textos reunidos dão testemunho “duma busca inquieta, logo duma evolução”, reconhece que o seu desejo maior foi sempre o de “«cingir» a obra literária”, procurando captá-la numa rede de relações. Na segunda colectânea, publicada já em democracia, a alegoria de Penélope e da sua teia, desfeita todas as noites para desespero dos pretendentes, serve a Jacinto do Prado Coelho para contrapor à fidelidade da mulher de Ulisses a infidelidade do crítico, que busca incessantemente a Literatura, o que nela resiste ao tempo, para acrescentar sentido às obras e tecer uma teia que “não é disfarce nem artimanha: é testemunho, dádiva”. Segue-se uma importantíssima reflexão sobre o ensino da literatura e mais de uma trintena de ensaios sobre autores e obras dos sécs. XIX e XX. A elegância e clareza do seu estilo testemunham bem a preocupação pedagógica presente ao longo do seu vasto e diversificado percurso. No preâmbulo do último volume que publicou, Camões e Pessoa, Poetas da Utopia, de 1983, associa, naquele que é o mais pessoal dos seus textos, utopia e mito, sublinhando que “a literatura é o espaço por excelência da utopia”, razão pela qual não é particularmente acarinhada pelos poderes estabelecidos, que temem o seu carácter subversivo. Através da primeira pessoa do singular esclarece, numa espécie de balanço e ao mesmo tempo de testamento espiritual, as razões que o movem: “escrevo por necessidade de evasão, para ver mais claro, para prolongar o exercício da leitura, para me aproximar dos outros, para substituir a vida, para me sentir vivo.” A maior parte dos ensaios do livro é dedicada aos dois poetas cimeiros do nosso cânone, sendo os restantes estudos avulsos sobre autores portugueses e brasileiros. |
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