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Entre as décadas de 1830 e 1850, intervalo no qual Lisboa produziu a maior parte de seus escritos, o Brasil passou da fase de forte instabilidade social e semântica do período regencial (1831-1840) ao processo de centralização política e estabilização capitaneado pelo projeto conservador saquarema. É durante esse período que Lisboa formou a sua persona literária, sob o falso-pseudônimo de Timon - referência tanto ao Timon, o Misantropo, da Antiguidade clássica, como também, provavelmente, à versão francesa encarnada pelo visconde de Cormenin em suas sátiras. Nesse intervalo de três décadas no qual sua produção se insere, é possível identificar, igualmente, o estabelecimento de algumas fronteiras discursivas que iriam definir os protocolos por meio dos quais a nação brasileira poderia ser pensada historicamente, e que encontraria no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), criado em 1838, a sua grande instituição organizadora. Da atuação jornalística e partidária da década de 1830 à atuação nos arquivos portugueses, passando pela crítica e reflexões políticas da primeira fase do Jornal de Timon, João Francisco Lisboa teve sua obra fortemente marcada pelas vicissitudes políticas e intelectuais que afetaram o Brasil naquele momento. Por isso, a dificuldade de tratar seus escritos como um todo homogêneo, querendo tirar dali alguma forma de doutrina fechada e coerente. Sua obra deve ser entendida, antes, em função dos diferentes gêneros em que escreveu e em relação aos distintos contextos nos quais se inseria, revelando a dimensão profundamente pragmática de sua escrita. O maior foco de reflexão em seus escritos publicados no Jornal de Timon gira em torno das diferentes experiências político-partidárias na história ocidental, dos antigos aos modernos, tornando a história uma espécie de laboratório da política. Nestas reflexões, no mesmo movimento em que atacava as elites regionais com seu tom satírico, Lisboa desenvolveu um estilo historiográfico no qual convergia estudo do passado e reflexão política, analisando de que modo em diferentes sociedades foram equilibrados os vetores perenes da "autoridade" e da "liberdade" – tema então central no pensamento político nacional. Já em seus escritos tardios, quando foi substituir Gonçalves Dias na missão de coleta de arquivos no Conselho Ultramarino, João Francisco Lisboa adotou um estilo distinto, marcado tanto por um maior investimento erudito no uso de documentação histórica, como pela sobriedade e elegância de sua narrativa. |
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