| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
Para Lisboa, a história do Brasil foi marcada por uma colonização nociva, com "leis confusas, incompletas, contraditórias, opressivas"; na qual os funcionários e governadores preenchiam o tempo com "manejos e intrigas políticas e particulares" e cujos cidadãos organizavam-se a partir de "poderes rivais e relutantes, inúteis para a fiscalização e o equilíbrio, admiráveis para os conflitos, os tumultos e as revoltas" (Obras, 1865, Vol. III, p. 172). Do mesmo modo, compartilhando do antijesuitismo de seus contemporâneos, Lisboa via a atuação da Companhia de Jesus de forma bastante negativa, marcada por interesses políticos e econômicos. Mesmo o padre Antonio Vieira, se era reconhecido por suas qualidades oratórias e literárias, não deixava de ser fortemente criticado por suas ambições seculares de notoriedade e de poder. Se a história do Brasil teve algumas experiências positivas, como a revolta de Beckman, os aspectos nocivos da colonização foram muito mais determinantes na configuração de sua formação política e social. Mesmo as mudanças promovidas após a independência serviram mais para garantir a continuidade daquele sistema do que para promover o surgimento de uma nova sociedade. Nesse sentido, a implementação de formas políticas representativas, via sistema eleitoral, não poderia encontrar as condições de possibilidade para seu pleno funcionamento. Ao narrar como os vícios e as virtudes promoveram o equilíbrio ou o desequilíbrio de instituições políticas em diferentes sociedades, e especificamente no Brasil, João Francisco Lisboa intentava aguçar uma forma de raciocínio e ajuizamento sobre a realidade política nacional. Sua escrita da história, portanto, inseria-se como uma forma de reflexão moral, estabelecendo uma série de pontes entre o passado e o presente. A tarefa de narrar a história, segundo Lisboa, cobrava do historiador a competência de não apenas estabelecer os fatos via erudição crítica, mas também de encontrar as forças que lhe davam sentido. Só assim a história poderia vir a ser útil ao presente. Mais do que apenas oferecer exemplos morais, caberia ao historiador habilitar o leitor a adquirir uma percepção moral, que o possibilitasse lidar com as diferentes experiências históricas em suas diferenças e novidades. |
|||||||||||||