| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
Em todos estes trabalhos é percetível a elaboração de uma teoria da história de Portugal que põe em causa a tese de uma alegada decadência seiscentista influenciada pela Inquisição, relevando, ao invés, a ideia de uma nação colonizadora. E se inicialmente há, pelo menos na aparência, uma tentativa de associação desta perspetiva universalista a uma teoria hispanista influenciada certamente por António Sardinha ("Cultura peninsular no Renascimento", Nação Portuguesa, 1925), a verdade é que dela em breve se afasta ("Espanha e Portugal", id.,1927). Os trabalhos de Manuel Múrias, em especial a partir de meados da década de 1930, focalizam-se numa perspetiva ampla, que tenta integrar todo um eixo atlântico (Portugal, Brasil, África) numa visão teleológica, em que Portugal assume uma dimensão central enquanto nação descobridora, evangelizadora e civilizadora, que visava que a "nação se cumprisse" (Portugal: Império, pp. 164 e segs.). De resto, Portugal era, para Múrias, em primeiro lugar um país atlântico – ao contrário de Espanha, nação essencialmente europeia cuja propensão ultramarina teria constituído mais um aproveitamento de uma circunstância histórica específica do que uma verdadeira vocação e cujos expoentes máximos deveriam sempre algo a uma influência portuguesa (por exemplo, Colombo ou Magalhães). Na base, o pensamento historiográfico de Manuel Múrias sustenta-se num ideário conservador e nacionalista e num discurso antimoderno, herdeiro em grande medida do seu período formativo enquanto discípulo de António Sardinha e da matriz do Integralismo. Na história de Portugal, seguindo a reflexão de Jacques Maritain para França, Múrias vê três grandes momentos revolucionários após a Idade Média: a Reforma, o cartesianismo e a Revolução Francesa (Idem, pp. 11-13). E se para si os dois primeiros momentos não têm impacto significativo em Portugal (a Reforma, devido à ação da Inquisição e a revolução científica, devido à dinâmica neotomista e ao jesuitismo), a adoção das ideias da Revolução Francesa representará o capitular da nação face a uma influência estrangeira a que a nação resistira em diversas ocasiões (no momento da Restauração, após o pombalismo e com a vitória na Guerra Peninsular) e que se materializa no constitucionalismo monárquico e na república. Período que encara – mais uma vez em linha com a maioria dos intelectuais tradicionalistas – como de "desnacionalização" que, no seu entender, apenas começa a ser revertida a partir da segunda década do século XX por via de "meia dúzia de homens" (leia-se, a primeira geração integralista) que tenta "reaportuguesar Portugal" (Idem, p. 13). |
|||||||||||||