| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
A este processo de renovação seria central o uso da História, acerca do qual reflete em diferentes momentos – para Múrias, "[…] verdadeiramente, uma nação é a sua História […] a história de uma nação é a sua vida; e não apenas a sua vida no passado – a sua missão: no passado, no presente, no futuro; a sua vocação." (O Seiscentismo em Portugal, p. 7). Mas esta visão era, em larga medida, a visão do positivismo integralista, a da História enquanto fonte de experiência, de familiarização com os problemas do presente, da ideia de que o passado “ensina a conhecer o presente e a esclarecer o futuro” e de que, pela sua observação, se extraem "as leis a que a nação, enquanto corpo social, está sujeita" (Luís Almeida Braga, "Do espírito da democracia", Nação Portuguesa, 1915). E se a produção historiográfica de Manuel Múrias não envereda, como sucede com outros autores tradicionalistas e monárquicos, por uma perspetiva ucrónica, não deixa ainda assim de assumir uma dimensão nacionalista, com o intuito apologético de apresentar acontecimentos e personagens do passado como modelo (“Nacionalismo e Catolicismo. Conceito de tradição", Nação Portuguesa, 1927). Da mesma forma, aponta a outras como alvo, patente em passagens em que é notório um antissemitismo que, não sendo central à totalidade da obra de Múrias está, pelo menos, particularmente presente em vários dos seus trabalhos (os judeus representariam uma "doença constitucional [cujo] carácter onzeneiro da raça […] despertou a animosidade dos naturais" [O Seiscentismo em Portugal, p. 38]; a inquisição teria sido "resultado de antiga dissidência entre portugueses e judeus que […] de feitio de natural ostentoso e mesquinho, espezinhavam os naturais" [idem, p. 39]; "Ainda hoje os judeus são, como sempre foram, motivo de desordem e propulsores da desorganização social em muitos países da Europa […] [Portugal: Império, p. 40]). Em todo o caso, é de salientar que Manuel Múrias reconhece em várias ocasiões que a História nunca é isenta de intenções, que existe sempre "um motivo que arrasta o historiador, e até a própria escolha do assunto a tratar indica já uma inclinação subjetiva que aponta à demostração de uma tese." (O Seiscentismo em Portugal, p. 78). No caso de Múrias, essa tese começa por ser a crise da mentalidade identificada com a crise da nacionalidade, para a qual era preciso uma “restauração cultural”; com o Estado Novo, atingida a seu ver essa "restauração" e partindo, como escreve nos anos 40 no semanário Acção, "da certeza de que temos uma doutrina; e da convicção de que somos uma força", a tese passa a ser a de uma necessidade de afirmar a "especificidade nacional", nomeadamente no que diz respeito ao que via ser o papel português na expansão e transmissão de valores civilizacionais ao longo da História, espécie de missão que visava "cumprir Portugal". |
|||||||||||||