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Para além de ter o timbre de uma geração de filólogos que eram sobretudo “grandes leitores”, a cultura histórico-literária de AC reflete ainda uma curiosidade forte e intensa, que o conduzia inclusivamente ao contacto com os chamados “autores menores”. Aquilo que, à partida, poderia considerar-se uma mera deriva de investigação encontra fundamento em dois pressupostos muito importantes para o historiador da literatura que AC realmente foi. Com efeito, embora menos lidos pela posteridade, esses criadores acabam por contribuir, no seu tempo, para a constituição dos códigos estéticos dominantes. Por último, importa fazer notar que nesses mesmos autores (e não tanto nos chamados autores maiores) os referidos códigos podem ser apreciados de forma mais ampla e estabilizada. O interesse incomum que votou a um grande número de autores “esquecidos” não o impediu, porém, de se concentrar num pequeno conjunto de “eleitos”. Neles reconhecia uma excecional capacidade de irradiação e a eles votava um indisfarçável afeto intelectual. É seguramente o caso de Luís de Camões, António Vieira e Camilo Castelo Branco. Tendo fundado a cadeira de Estudos Camonianos na Faculdade de Letras de Coimbra (1976), Aníbal de Castro viria a regê-la até à sua jubilação, ocorrida em 2006. O seu saber camoniano, de que beneficiaram várias gerações de alunos, ficou sobretudo vertido numa coletânea de ensaios intitulada Páginas de um honesto estudo camoniano, que viria a público em 2010 e que traduz, no próprio título, todo um programa de verticalidade universitária. Aí podemos encontrar, entre outros estudos, uma análise sistemática do papel da mitologia na Lírica; aí podemos ver analisadas, de forma inovadora e convincente, questões de intertextualidade complexa como aquela que diz respeito à relação da lírica camoniana com a tradição poética peninsular ou a que se refere à contiguidade existente entre o relato do naufrágio do Galeão Grande São João e a releitura camoniana que dele é feita no Canto V de Os Lusíadas. A abrir essa mesma obra encontramos ainda um valioso texto de síntese sobre a vida e obra do poeta. O referido ensaio destinava-se inicialmente a figurar numa Enciclopédia. Foi depois editado em brochura pelo Instituto Camões, beneficiando de ampla difusão. O seu interesse pelo autor de Os Lusíadas encontra-se ainda atestado pela fundação do Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos, que dirigiu ao longo de vários anos. |
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