Nas palavras de João Serras e Silva, como “na sociologia, na história a intuição e o senso comum conduzem a explicações muitas vezes absurdas. As leis sociais, as repercussões, as coexistências, a formação social fornecem meios de interpretar os factos históricos que os historiadores habitualmente não possuem. Não basta ter o facto; nenhuma sciência se contenta somente com os factos; é preciso uma operação do espírito para ligar e explicar estes factos. Os factos são necessários, indispensáveis; nenhuma sciência se pode constituir sem eles. Mas, necessários, não são suficientes […].

A história não nos dá uma reconstituição exacta duma sociedade ou duma instituição, não nos descreve a evolução dessa sociedade ou dessa instituição porque lhe faltam os meios; não há documentos. Os melhores documentos são os que dizem respeito à vida privada e esses não existem. É por isso que a história será sempre uma sciência imperfeita, inferior às sciências naturais. Contudo, a sciência social, aproveitando o que existe e aplicando as suas descobertas — leis causais e leis de coexistência —, obtidas na observação dos povos actuais, pode fazer avançar consideravelmente o conhecimento do passado.” (SILVA, João Serras e, “A história à luz da sciência social”, Biblos, vol. II, 1926, p. 486 e 528.)

À semelhança, por exemplo, de António Sérgio e de Jaime Cortesão, João Serras e Silva propôs uma leitura sociológica da “expansão lusa” — dos antecedentes e das correspondentes implicações —, tanto na “Metrópole” e nas “Ilhas Adjacentes”, como nas “Colónias”. Comparou as virtudes e as limitações das evoluções ibéricas com os sucessos das realidades britânica, francesa e holandesa. Utilizou conceitos como os de “política de transporte” e “política de fixação”, “responsabilidade das elites” e “educação das classes populares”. Depois de 1932/1933, História dos Descobrimentos e da Colonização Portuguesa voltou, durante muitos anos lectivos, a ser trabalhada como um somatório de informação empírica, “personalidades”, “acontecimentos” e apreciações valorativas sobre a “glória” ou a “decadência” de Portugal.

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