O contributo de João Serras e Silva para a ENSUC decorreu, tanto da sua formação e actividade como médico — assegurou a disciplina de Higiene Escolar, do 1º Ano do Curso de Habilitação para a Docência nos três níveis de ensino não superior —, como do seu empenhamento nos debates relativos à evolução e à função social da historiografia. Considerou fundamental que, tanto no plano da configuração dos conteúdos programáticos como em termos das metodologias didácticas (que deveriam ser activas e responsabilizantes), o ensino da História passasse a contribuir para a formação de adultos conscientes e capazes de agir mais autonomamente.

Na sua perspectiva, apenas uma história científica porque sociológica, simultaneamente materialista e “espiritualista”, corporativista e “lucidamente nacionalista” garantiria aos jovens e ao país uma compreensão “objectiva” do seu passado, indispensável à construção de um futuro no qual se manteriam os aspectos positivos e se abandonariam as características negativas (substituídas por soluções válidas já testadas em outros Estados). Recorrendo a exemplos de história da expansão colonial europeia, procurou mostrar como a “crise nacional” da segunda metade do século XVI e da primeira metade do século XVII decorrera de Portugal ter continuado a ser um país nobiliárquico e guerreiro, desprovido de uma elite comercial e industrial forte; de ter sido incapaz de consolidar um relacionamento favorável com sociedades que apresentavam níveis civilizacionais superiores, semelhantes ou inferiores aos seus.

Sobre historiografia e ensino da História, João Serras e Silva afirmou que numa “fórmula sintética poderíamos dizer: foi a cavalaria que nos deu a Índia e foi a cavalaria que no-la fez perder. Soubemos conquistar, mas não soubemos reter e conservar. Aqui está porque a Índia se perdeu. Ainda uma vez os factos nos mostram que a cavalaria não funda nada de sólido e duradouro; o sistema patriarcal de explorar e dominar as pessoas, em vez das coisas, é um sistema votado à esterilidade. Uma história dos Descobrimentos que desconheça este determinismo, este encadeamento dos factos, este predomínio das formações sociais, poderá ser uma história erudita […], mas não é uma história scientífica, capaz de nos esclarecer sobre o mecanismo da evolução humana.” (SILVA, João Serras e, “O estudo da História”, Arquivo Pedagógico, nº 4, 1929, p. 430/431.)

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