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Não sendo propriamente um historiador, é um facto que, tanto pelo período em que ocorreu a sua formação como pela especial atenção que sempre prestou ao mútuo condicionamento de sincronia e diacronia, é possível encontrar na obra tão dispersa em géneros e temáticas de Nemésio uma considerável presença da História em vários aspectos. Um dos mais evidentes é o segmento das biografias de figuras históricas, a primeira das quais, Isabel de Aragão, Rainha Santa, é publicada em 1936 e traduzida para espanhol em 1944. Como então diz o autor em carta a Adolfo Casais Monteiro (8.4.1936), “Às vezes sinto-me biógrafo, outras novelista, outras poeta, e até professor e filólogo sou!”, e nisso resume a hibridez de que se reveste este e outros trabalhos. Munida de uma minúscula bibliografia e de um anexo com “Documentos” retirados da obra de António Ribeiro de Vasconcelos, “meu mestre de Ciências auxiliares da História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra [...] cuja rara erudição e crítica modelar tornaram possível o tal ou qual tom de intimidade do biógrafo com uma figura de tempo tão recuado”, a obra esclarece numa nota a orientação do autor: “este livrinho é uma 'vida', ou seja, uma interpretação puramente biográfica da Rainha [...] não perdemos o pé da História, não inventámos um único personagem ou facto: a nossa invenção é puramente psicológica. Não se pode fazer uma 'vida' só com verbas avulsas dos arquivos.” (p.104). Já em Vida e obra do Infante D. Henrique (1959), Nemésio esclarece: “este livrinho mantém-se nos naturais limites de simples narrativa [...] não se lhe impunha aparato bibliográfico e erudito. Tiveram-se em vista, sim, as fontes primitivas, sobretudo as crónicas [...] Mas não pareceram indispensáveis as abonações minuciosas num texto de vulgarização, nem a história das questões de detalhe com as várias posições dos seus intérpretes, que embaraçaria a leitura.” (p.IV). Promete aliás retomar a matéria noutro estudo, mais consentâneo com o perfil das suas relações com a História: “num quadro de história da cultura directamente investigado sobre os textos literários e as fontes documentais do século XV. Aí analisaremos a estamentação das classes, os ideais de vida, a estrutura mental da época e seus conteúdos.” (p.VI). Esta perspectiva adequa-se ao que considerou o impulso decisivo, na época da sua formação coimbrã, para procurar “uma História em geral, omnicompreensiva do mundo e especulativamente convidada a analisar as distinções e ambiguidades entre natureza e cultura, necessidade e liberdade, homem e mundo - em suma a 'razão histórica' que só mais tarde me formularam Dilthey e Ortega y Gasset” (“Última Lição”, p. XXVI), mas não “a certas operações de micro-história a que tenho procedido em estudos meus” (ibid., p. XXVII), citando como exemplo a sua tese sobre Herculano. |
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