Iniciada a publicação em 1903, o Archivo Historico Portuguez teve uma periodicidade mensal (por fascículos) até 1916/17, mas com um pequeno interregno entre 1910-1914, consequência da transição de regimes. Posteriormente, veio a ser agrupada em 11 volumes (com um preço avulso de 4$800 reis). Iniciativa de Anselmo Braamcamp Freire e D. José da Silva Pessanha, que foram os seus directores, o Archivo assume um lugar de relevo no panorama das publicações periódicas sobre História em Portugal, sendo consensualmente entendida como a primeira revista de História no país, no sentido historiográfico de especialidade. A publicação do Archivo em muito ficou a dever aos seus promotores principais, que em grande medida permitiram uma relativa longevidade da revista (inclusivamente no suporte financeiro). Não foi por acaso que os seus directores exerciam actividade ligadas ou vieram a distinguir-se no campo dos estudos históricos, nas suas múltiplas vertentes: por exemplo, Silva Pessanha era conservador da Torre do Tombo e A. Braamcamp Freire, que à data ainda não tinha publicado grande parte das obras pelas quais veio a ficar conhecido, era, mesmo assim, uma figura proeminente da cultura política portuguesa (Par do reino, já tinha exercido cargos públicos na administração local - veio depois a desempenhar na I República cargos de relevo).
Na «Advertência» publicada no primeiro número, com o intuito de expor os princípios subjacentes à revista, e assinada pelos directores, podemos enumerar os seguintes aspectos: i) uma crítica ao estado de conservação e da organização das fontes históricas, "Em países onde a História é, e tem sido, estudada a valer, onde os arquivos e bibliotecas se encontram ordenados por forma que facilita as buscas dos estudiosos (...) mas entre nós, infelizmente, não sucede assim" (AHP, vol. I, p. V); ii) concomitantemente, uma crítica ao ambiente ou à dinâmica historiográfica que se registava na altura e uma crítica social, em que se expunha - embora muito epidermicamente, diga-se - a ideia de «decadência», conceito muito em voga numa parte da cultura política (e historiográfica) do último quartel de oitocentos, "A indiferença geral pelos estudos históricos, que domina ainda hoje em Portugal, é mais um sintoma de decadência profunda em que as gerações presentes caíram. Ofusca-as a independência e altivez de muitas das pretéritas, e, para não terem de corar, preferem ignorar. Será talvez por isto que os estudos históricos são tão desprezados entre nós, e tão pouca animação encontram no públicos, que, mal educado, toma contudo às vezes por ouro de lei o que não passa de mais ou menos brilhante ouropel." (Idem, p. VI).