A Revista de História constitui-se como órgão da Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos (1911-1928). Com uma periodicidade trimestral (custo avulso de 300 reis, assinatura anual de 1$200), veio posteriormente a ser agrupada em 16 volumes, cada um compreendendo, tendencialmente, quatro números. Fidelino de Figueiredo (1888-1967), que se notabilizou com larga obra no campo da história e crítica literária, foi o seu director e principal colaborador. Na verdade, Fidelino assumiu-se como figura central quer na criação e dinamização da SPEH como da RH. Estamos perante um projecto pessoal, de uma tentativa de orientação historiográfica e com um certo horizonte ideológico.
O embrião do que veio a ser a RH pode ser encontrado num dos principais ensaios de juventude de Fidelino, O Espírito Histórico (1910). Texto programático elaborado poucos dias após os acontecimentos da Revolução Republicana de 5 de Outubro, nele se detectam as bases historiográficas e ideológicas do autor, avesso ao positivismo historiográfico (e político) e à “neofilia” que, a seu ver, tinha encontrado um estandarte com a revolução republicana, distante de elementos históricos ou tradicionais portugueses. Estava-se, segundo sua interpretação global, num período de “desnacionalização geral” e de decadência do povo português (e espanhol), com “falta de seiva histórica”. Também se constata neste ensaio, numa clara alusão à recente revolução, a sugestão de que o desenvolvimento de um «espírito histórico» traria uma visão mais serena dos problemas do presente, dando azo a uma postura moderada perante transformações sociais e políticas de grande ordem. Concorriam, assim, dois importantes elementos para o seu programa de claro sabor nacionalista: uma pedagogia da nação centrada na história e com uma base científica (a seu ver, o motor de progresso de outros países europeus), concretizável através da criação de uma instituição em particular: “Urge, pois, que na reforma da instrução superior, se crie um centro de estudos nacionais ou pelo menos, ainda que dispersos, estes tenham uma longa representação. (…) Era também da maior urgência, por ser da maior oportunidade e eficácia, a fundação de uma revista de história, onde se recolhessem todas as monografias, todos os elementos que contribuíssem para essa tarefa sagrada na nacionalização do país” (O Espírito Histórico, 1ªed, 1910, p. 12).
A ideia de criação de uma revista é recuperada no ano seguinte, 1911, já dentro da arquitectura geral do programa da SPEH, então tornada público. A «circular programa» também fazia uma chamada a “todos os profissionais portugueses de ciências históricas”, com o intuito de congregar “todos esses esforços dispersos e que asseguraria a cada autor, mediante uma mínima quotização, publicidade, público e discussão crítica” (Boletim da Sociedade de Geografia, 1911, p. 120). De entre as múltiplas iniciativas projectadas para este empreendimento associativo, estava a criação do que viria a ser a RH.