| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
Armando Castro teve duas experiências muito diferentes de historiador. Experiências estas intimamente ligadas à rutura essencial que representou o 25 de abril de 1974 na cronologia política portuguesa. Na sua primeira vida académica, anterior à Revolução dos Cravos, foi enquanto investigador, o “historiador de domingo. Esta expresso foi cunhada por Philippe Ariès quando se apresentou, em entrevista, a Michel Winock. De facto, Ariès só viria a obter uma vaga no Centre national de la recherche scientifique em 1978, com 64 anos, numa idade já avançada. Anteriormente a esta mudança profissional, que o integrou oficialmente na vida académica francesa, Ariès apenas podia investigar no tempo que lhe restava fora das suas ocupações profissionais. Neste sentido, e na medida em que foi impedido de ingressar na universidade portuguesa, por motivos políticos, durante o Estado Novo, também Armando Castro teve de trabalhar como advogado. Só nos momentos livres podia dedicar-se à escrita da História. A sua única experiência docente, antes do 25 de abril, ocorreu no Instituto Superior de Psicologia Aplicada. Aqui regeu a cadeira de Introdução às Ciências Humanas, entre 1970 e 1973. Porém, quando este Instituto foi reconhecido pelo Estado, o seu contrato não foi renovado por impedimento da Direção-Geral de Segurança. Eis como Armando Castro resumiu esta primeira vida que se dividia entre a advocacia e a investigação durante a ditadura: “Advogar nas condições trágicas que era ter sempre o mínimo de trabalho possível para poder continuar as minhas investigações. Às vezes descia abaixo desse mínimo e tinha problemas de subsistência económica. Isto foi assim durante mais de trinta anos. Às vezes não tinha dinheiro para pagar a renda da casa. Quando tinha mais um bocado que fazer vivia amargurado, porque não tinha tempo para os meus trabalhos” (AA.VV., «Entrevista com Armando Castro por António Mendonça, Carlos Bastien, Elivan Ribeiro», em Vértice, julho 1988, n° 4, p. 100). A sua segunda vida, radicalmente diferente da anterior, começou logo depois da Revolução de abril, ao ocupar uma cátedra na Faculdade de Economia do Porto. Lugar onde permaneceu até à sua jubilação, em 1988, por ter atingido o limite de idade. Durante este período, já era um historiador profissional, que podia escrever e lecionar as disciplinas de Economia e História para formar alunos. Através do estudo do seu percurso intelectual e cívico, podemos medir a importância da política na vida e no pensamento do historiador. |
|||||||||||||