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BEAZLEY, Charles Raymond | |||||||||||||
Ao longo da obra o historiador descreveu e analisou os acontecimentos mais marcantes da vida de D. Henrique, e, por conseguinte, do seu projecto marítimo, distinguindo diferentes motivações para o seu desenvolvimento. Identificou, por um lado, a sua aspiração de descobrir o caminho marítimo para a Índia – ideia muito difundida na historiografia portuguesa desde o séc. XVI, mas posta em causa por Duarte Leite já nos anos 30 – como motivação primordial desse projecto. Para Beazley, esse plano foi concebido não só “for the sake of the new knowledge itself”, mas também pelo poder que daí adviria. Associada a esta descoberta, terá estado a intenção do Infante de obter rendimento das explorações realizadas ao longo da costa africana e, posteriormente, em território asiático. Segundo o historiador, “the chief hope of Henry's captains was that the wealth now flowing by the overland […] would in time […] go by the water way”. Salientou, por outro lado, o carácter missionário da empresa marítima de D. Henrique, considerando-a aliás uma Cruzada, uma vez que, além de descobrir e comercializar, os navegadores portugueses terão tido como móbil a conversão dos povos ao Cristianismo e o combate contra os mulçumanos (Prince Henry...,1895, pp. 139-142). Apesar de D. Henrique ser, evidentemente, o cerne desta biografia, Beazley apresentou nela uma interpretação do passado português que vale a pena notar. A formação de Portugal e a manutenção da sua independência ao longo do tempo são, como é sabido, aspectos que despertaram grande interesse entre historiadores estrangeiros na segunda metade de Oitocentos e nas primeiras décadas da centúria seguinte. Enquadrado na tendência historiográfica britânica do seu tempo, Raymond Beazley perfilhou uma “espécie de darwinismo social aplicado às histórias nacionais”, sustentando a ideia de que as nações se encontram entre os melhores exemplos da sobrevivência do mais forte (Jorge Borges de Macedo, A Historiografia Britânica..., 1973, p. 27). Portugal é, a seu ver, um desses exemplos, não só por ter-se mantido autónomo durante os primeiros séculos da sua existência, mas também por ter demonstrado resistência e a “stubborn restless independence of the people”. Tal desenvolvimento de Portugal durante a Idade Média e a defesa convicta da sua independência terão permitido ao reino português tornar-se, segundo Beazley, no mais desenvolvido de todos os reinos cristãos quando chegadas as centúrias quatrocentista e quinhentista. Durante este período, Portugal valeu-se do seu instinto marítimo e assumiu uma posição central na transição europeia da época medieval para a era moderna, não só por ter transformado a exploração marítima num projecto “systematic and continuous”, mas também por ter tornado os portugueses nos “founders of our commercial civilisation, and of the European empire in Asia” (Prince Henry..., 1895, pp. 125-126, 144). |
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