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BEAZLEY, Charles Raymond | |||||||||||||
Mencionámos anteriormente que a biografia de Major, publicada em 1868, constituiu uma das principais referências na elaboração de Prince Henry the Navigator. À parte deste trabalho, o historiador recorreu ainda a outras obras internacionais, como é o caso de Untersuchungen über die geographischen Entdeckungen der Portugiesen unter Heinrich dem Seefahrer (1842), de Johann E. Wappäus, e de Henri le Navigateur et l'Académie Portugaise de Sagres... (1890), publicado por Henri E. Wauwermans. Contudo, o que aqui mais importa assinalar prende-se com o conhecimento que Beazley demonstrou da historiografia portuguesa sobre a matéria e, sobretudo, das fontes da época do Infante D. Henrique. No que concerne à historiografia portuguesa, o autor britânico apontou Os Filhos de João I, de Oliveira Martins, como uma das suas principais referências, tendo passado também pela História de Portugal de Herculano para contextualização do Portugal medieval. Relativamente às fontes, recorreu amiúde à Crónica do Descobrimento e Conquista de Guiné..., de Gomes Eanes de Zurara, que, aliás, conhecia em profundidade, pois publicou uma tradução desta obra para inglês juntamente com Edgar Prestage. Do mesmo cronista, utilizou também a Crónica de D. João I, tendo compulsado ainda a Crónica de D. Duarte e a Crónica de D. Afonso V, ambas publicadas por Rui de Pina. Embora Prince Henry The Navigator seja, porventura, o trabalho mais completo de Beazley no que à história de Portugal diz respeito, o historiador viria a publicar dois artigos anos mais tarde, nos quais retomou tópicos abordados na biografia do Infante. Trata-se de “Prince Henry of Portugal and the African Crusade of the Fifteenth Century” (1910) e “Prince Henry of Portugal and his Political, Commercial, and Colonizing Work” (1912), ambos vindos a público em The American Historical Review. Neles procurou enfatizar algumas ideias que tinha já apresentado, caso da do carácter religioso da empresa marítima portuguesa, considerando-a uma Cruzada, e da de que o Infante D. Henrique assumiu um papel decisivo na elaboração dessa empresa e na revitalização “of those energies which makes the fifteenth century so memorable” (“Prince Henry...”, 1910, p. 12). Beazley contribuiu também para obras de referência e revistas dos campos geográfico e historiográfico. Importa salientar as vinte e uma entradas que redigiu para o Dictionary of National Biography, com destaque para o texto sobre D. Filipa de Lencastre, bem como o contributo para a célebre Encyclopaedia Britannica. Notória é também a sua participação em The Geographical Journal – que ainda hoje se mantém a revista de referência da Royal Geographical Society –, tendo publicado diversos artigos e revisões críticas. Autor prolífero, Raymond Beazley integrou o período da historiografia britânica em que se estabeleceu “uma verdadeira corrente de investigação idónea, bem assente e justificada por razões científicas e não de circunstância”, e no qual se valorizaram elementos que até então não tinham tido tanta relevância no labor historiográfico britânico sobre Portugal. Borges de Macedo ressaltou, a esse respeito, a “necessidade de dispor de elementos documentais portugueses” e a percepção de que o conhecimento sobre a história de Portugal seria indispensável “para analisar os antecedentes da expansão colonial inglesa”. Notou, ainda, que para estes historiadores “a função da história não se coaduna[va] com generalizações”, reconhecendo-se a necessidade de se estudar a história portuguesa no seu próprio ritmo, distinto de qualquer outra realidade, e, no caso de Beazley, de “definir uma perspectiva sobre a cultura europeia onde a contribuição portuguesa se revele útil para uma sequência compreensível” (Jorge Borges de Macedo, “A Historiografia Britânica...”, 1973, pp. 27-29). Charles Raymond Beazley foi condecorado com o título de Cavaleiro pela Monarquia Britânica em 1931, tendo falecido a 1 de Fevereiro de 1955, em Birmingham. |
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