Da verificação da matriz histórica do pensamento de Álvaro Cunhal não decorre, contudo, uma vocação historiográfica, pois, a seu ver, bem mais relevante do que escrever a história seria fazer a própria história, domínio em que o historiador ocupa um papel claramente subsidiário, embora com mérito intrínseco.

Foram as vicissitudes próprias da luta política clandestina, designadamente a prisão ao longo da década de 1950, que acabaram por reunir as condições que conduziram o dirigente comunista a um labor cultural e de investigação regular e variado, consubstanciado em desenhos e pinturas, narrativas literárias, ensaios, tradução, peças polémicas e, mesmo, em estudo conducente a uma eventual dissertação de doutoramento.

Os escritos de Álvaro Cunhal de índole histórica foram redigidos no início deste período. A primeira versão do único estudo propriamente histórico de que foi o autor, As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média, surge datada do segundo semestre de 1950, o mesmo ocorrendo com as Notas à margem do Prefácio de António Sérgio à Crónica de D. João I, enquanto, num plano mais circunscrito, na recensão de Herculano e o Liberalismo em Portugal, de António José Saraiva, (redigida em 1951), considerava que a falta de enquadramento do pensamento de Herculano na evolução da vida social do seu tempo impedia a formulação de qualquer juízo geral acerca do mérito imputável à obra, contém a indicação de ter sido redigida a 22 de Março de 1951.

Após haver circulado como material de formação política e merecer publicação em língua francesa (1967), As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média conheceu três edições portuguesas em vida do autor (1975, 1980 e 1997) com variações e aditamentos de relevo. Enquanto a versão francesa de 1967 e a edição portuguesa de 1975 não apresentam diferenças significativas entre si, pois as alterações introduzidas foram escassas e de pormenor, já o teor das edições seguintes, revistas e aumentadas, supera o tom esquemático original através de uma profunda reelaboração do texto, de fundo coloquial, que confere à obra a fluência e o rigor tidos por necessários para chegar a um público vasto. A edição de 1997 conta igualmente com notas do autor dedicadas ao prefácio de António Sérgio à edição da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes.

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