A simples apreciação da disposição esquemática da edição original torna a senha polémica, tendente a dividir as águas e a constituir uma tendência historiográfica marxista, manifesta. Do lado das citações abonatórias, encontramos tão-só as de Marx e de Engels, o saber historiográfico que o dirigente comunista toma por constituído surge evocado genericamente, enquanto os autores refutados não só vêem as passagens eleitas como emblemáticas formalmente transcritas como aparecem, por regra, acompanhados por epíteto ideológico, Antero e António Sérgio são classificados como reformistas, Jaime Cortesão é tido por liberal, Torquato de Sousa Soares tratado como fascista.

Pressupõe-se que a leitura histórica é imagem em que a mundividência do historiador e da sua condição social se espelha, e, como tal, necessariamente ideológica, limitada e deturpadora no caso dos autores de feição burguesa. À ilusória “ciência” histórica burguesa seria necessário contrapor a objectividade marxista do estudo da história portuguesa, perspectiva que o dirigente comunista reiterou ao longo de toda a vida, como deixou claramente frisado na abertura das muito tardias Cinco conversas com Cunhal relatadas por Catarina Pires.

Bibliografia activa: As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média, Lisboa, Editorial Estampa, 1975 (2ª. ed., 1980; 3ª. ed., Lisboa, Editorial Caminho, 1997); Les Luttes de Classe au Portugal à la Fin du Moyen Âge, Paris, “Les Cahiers du Centre D’Études et de Recherches Marxistes”, nº. 56, 1967; Obras Escolhidas, Lisboa, Edições “Avante!”, 2007

Bibliografia passiva: NEVES, José, Comunismo e Nacionalismo em Portugal. Política, Cultura e História no Século XX, Lisboa, Edições Tinta da China, 2008; PEREIRA, José Pacheco, Álvaro Cunhal. Uma biografia política. O Prisioneiro (1949-1960), Lisboa, Temas e Debates, 2005; PIRES, Catarina, Cinco conversas com Álvaro Cunhal, Porto, Campo das Letras, 1999

Luís Crespo de Andrade

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