Logo no ano seguinte, quando o economista argentino Raúl Prebisch assumiu a secretaria-executiva da CEPAL, foi nomeado diretor da Divisão de Desenvolvimento. Prebisch havia já construído a crítica dos modelos universalizantes das teorias econômicas produzidas pelos países desenvolvidos, afirmava que o desenvolvimento não respondia a critérios que permitissem asseverar as vantagens da divisão internacional do trabalho, especialmente considerando a assimetria que se estabelecia nas trocas entre produtores de matérias-primas e produtores de manufaturados. É na senda aberta por esta reflexão, e já anunciada em sua tese de Doutorado, que Celso Furtado elaborará sua interpretação do Brasil e do atraso da América Latina, assim como atuará politicamente para superar a assimetria denunciada e historicamente construída. É uma época de viagens e intensos estudos, destacando –se a publicação de seu primeiro artigo internacional, “Formação de capital e desenvolvimento econômico”, produzido para a Revista Brasileira de Economia e traduzido para o International Economic Papers em 1952.

Em 1953 assumiu a presidência do Grupo Misto CEPAL/BNDE (Bando Nacional de Desenvolvimento Econômico) cuja principal atribuição era exatamente traduzir para a circunstância brasileira um planejamento global de industrialização e desenvolvimento conforme proposição da CEPAL. Os trabalhos resultaram no documento “Esboço de um programa de desenvolvimento, período de 1955-1962” que viria a ser fundamental para ao Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira entre 1956 e 1960. Nesses anos 50, entre missões pela CEPAL no Brasil e no México e estudos na Universidade de Cambridge, apareceriam os livros A economia brasileira (1954), Uma economia dependente (1956) e seu mais importante livro, A formação econômica do Brasil (escrito em 1957 e publicado em 1959), que seria traduzido para nove línguas. Resultado de uma estadia de estudos em Cambridge, a primeira edição brasileira deste último livro sairia em 1959, quando Furtado já havia se desligado da CEPAL para assumir uma Diretoria do BNDE em 1958. Na sequência criaria o Conselho de Desenvolvimento do Nordeste (CODENO), ainda em 1958, e a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), em 1960, a pedido do presidente Juscelino Kubitschek e da qual foi o primeiro presidente.

Leitor de António Sérgio (1883-1969), João Lúcio de Azevedo (1855-1933), Oliveira Martins (1845-1894), Teófilo Braga (1843-1924) e Alexandre Herculano (1810-1877), autores com os quais dialogava já em sua defesa de Doutorado em 1948, Furtado acompanha o pensamento do primeiro ao afirmar a precocidade do desenvolvimento da burguesia comercial marítima portuguesa e a importância dela na expansão marítima.

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