Sua interpretação do Brasil articulava, a partir da hipótese de Sérgio sobre a precocidade da burguesia portuguesa, o processo de emancipação nacional português, as grandes navegações e a construção da colonização no Brasil. A colônia brasileira, nesta lógica, teria sido construída como apêndice da metrópole, a ocupação e colonização do território que viria a formar o Brasil era, assim, apenas mais um episódio da expansão comercial europeia. Desta forma, um estudo que pretendesse historicizar o subdesenvolvimento brasileiro, deveria começar, primeiro, por mostrar os processos históricos que trouxeram os portugueses às terras brasílicas.

No estudo desses processos, tanto em sua tese de Doutorado de 1948, quanto em seu mais importante texto, A formação econômica do Brasil, escrito em 1957, a debilidade da economia portuguesa, aprendida em leituras de Oliveira Martins e António Sérgio, assim como a afirmação dos pobres braços lusitanos em sua gesta imperial, aportaria nas terras do lado de cá do Atlântico e criaria um sistema de exploração da terra, das riquezas e da mão-de-obra que comporia o sentido geral da colonização brasileira e a origem histórica do subdesenvolvimento brasileiro.

Grande empresa destinada a alimentar o comércio da Metrópole por meio de produtos tropicais, a Colônia, desde seus primórdios, era explorada em função dos interesses metropolitanos, fato que deixaria marcas na organização da produção e na distribuição da riqueza. Movimentando-se em torno de um eixo que se localizava fora dela mesma, a Colônia respondia aos interesses de um comércio exterior e não observava suas possibilidades e interesses internos. A comparação com as colônias chamadas de povoamento era inescapável: a autonomia dos colonizadores estabelecidos nas colônias inglesas da América do norte em relação à Metrópole explicaria a economia forte e produtiva construída já na época colonial, e que ancorou seu desenvolvimento no mundo contemporâneo. Assim, tentando fugir às interpretações de modelos econômicos europeus e buscando historicizar a experiência de construção do subdesenvolvimento no Brasil, Furtado utilizou-se das teses decadentistas decimonônicas lusas para afirmar o mal de origem trazido pelo colonizador português. Tais teses foram temperadas com leituras de John Maynard Keynes (1883-1946) que definiram os termos de sua intervenção pública nos cargos acima citados: era preciso, por meio de forte atuação do Estado, vencer o passivo colonial, induzir o desenvolvimento e superar a má distribuição de riqueza emblemada no latifúndio monocultor e tecnologicamente atrasado.

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