Professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa entre 1958 e 1994, Eduardo Borges Nunes deixou obra historiográfica sobre a sociedade, cultura e mentalidade do Quatrocentos português e europeu, mas foi como historiador da escrita, sobretudo em português, perito paleógrafo e editor de textos que mais sobressaiu.

Nasceu em Setembro de 1924 em Vilar Seco da Lomba, no concelho transmontano de Vinhais. De menino e rapaz novo guardava boas recordações dos passeios por montes e vales, durante as férias, no intervalo dos estudos de filosofia, teologia e humanidades, feitos em Braga e com a Companhia de Jesus. Muitos anos depois, invectivado por colega queixoso da sua “teimosia de aldeão”, em final de reunião académica onde mais uma vez dera provas da proverbial determinação inabalável das suas decisões, respondeu: “Aldeão com muito orgulho. Cidadão, também me apraz. Vilão, não.”

Aliava ao sólido conhecimento das culturas e civilizações clássicas, ancorado num domínio invulgar do latim, nas suas subtilezas clássicas, medievais e renascentistas, aptidões como desenhador e organista, talento musical conhecido de poucos. Em finais da década de 1950, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde concluíra os estudos superiores, convidou-o a integrar o seu corpo docente, através de Virgínia Rau, que igualmente o desafiou a escolher tema para a futura dissertação de doutoramento. Exemplo da formação caldeada entre o seminário e a faculdade, “Paulo Orósio e a irrupção bárbara”, trabalho apresentado em Braga, na ocasião do XIII Centenário de São Frutuoso (1968), ilustra a sua mais antiga predilecção temática pelos clássicos.

Decidiu centrar o seu doutoramento na cronologia quatrocentista, época talhada à sua preferência pelos ressurgimentos culturais de cunho clássico. O gosto pela época da Expansão e Descobrimentos cedo se revelara – “O parecer do Infante D. João sobre a ida a Tânger” (Brotéria, 1958). Integrando o Centro de Estudos Arqueológicos, com direcção de tese de Manuel Heleno, passou dois anos como bolseiro em Florença, Roma e Vaticano, entre 1960 e 1962, época feliz de caminhos cruzados com amigos que ficariam para a vida, em especial Manuel Mendes Atanázio e Ruy de Albuquerque.

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