Um dos mais prolíficos escritores de temas histórico-filológicos e panfletários políticos da sua época, na área do pensamento contra-revolucionário, correspondente e sócio livre da Academia das Ciências de Lisboa, reformador geral dos estudos e arcebispo de Évora sob D. Miguel, que serviu afincadamente no exílio, Frei Fortunato de São Boaventura, de quem não se conhece o nome secular, constitui um exemplo significativo de autor diversificado e de actor político coerente nas ideias e nos actos.

Filho de família «honrada» de Alcobaça, na expressão de Inocêncio Francisco da Silva, o seu pai foi livreiro, segundo a mesma fonte. Pelos dezoito anos professou a regra cisterciense de São Bernardo no riquíssimo mosteiro de Alcobaça, numa época do Antigo Regime em que a entrada no clero regular servia muitas vezes de impulso para uma vida cultural intensa e uma visão ordenada e informada do mundo – veja-se o caso de José Liberato Freire de Carvalho (nascido em 1772) e do mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Frequenta os estudos preparatórios em Coimbra, alcança os graus de bacharel em 1806 e de licenciado e doutor em 1810, na Faculdade de Teologia (já reformada, lembre-se) e ensina no Colégio das Artes e depois na Universidade, chegando a Lente de Teologia.

Nos anos de 1808 e 1809, os das invasões francesas, surgem os seus primeiros escritos conhecidos, seis panfletos impressos na tipografia régia da Universidade, significando a legitimação do respectivo conteúdo. Entre eles podem enumerar-se um redigido em latim e dirigido ao vice-reitor, duas traduções sobre a política expansionista de Napoleão e sobre o cerco de Saragoça, elogios de Francisco da Silveira Pinto da Fonseca e da acção do corpo dos voluntários académicos na luta armada contra as tropas napoleónicas, corpo esse no qual se alistou logo em 1807, segundo o memorialista marquês de Fronteira, citado por João Ameal (outra fonte refere 1808). Em 1812 é lente substituto de Teologia e em 1817 professor de Grego no Colégio das Artes.

Temos, assim, por volta dos quarenta anos de idade, Frei Fortunato já com a sua carreira académica firmada, com uma bibliografia estabelecida sobre os eventos da época que o enquadram na chamada história imediatista – de Garção Stockler e Acúrsio das Neves, por exemplo – com novos títulos sobre os heróis laicos e militares da época, como o general Silveira, o coronel Trant, o marechal Beresford e os viscondes Wellington e de Montealegre, todos eles de 1811; mas também desenvolvendo, embora isoladamente, uma veia de periodista, com um «arrazoado volume» da Minerva Lusitana, de 1808-1809, também com a chancela oficial da imprensa régia da universidade.

1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | (Pdf)