É neste caldo de cultura científica e ideológica que Viana ocupará importantes funções na direcção da Associação da Agricultura Portuguesa e das Cozinhas Económicas; de fiscalização da Companhia das Lezírias; e de secretariado, durante vinte e quatro anos (eventualmente até à sua morte, em 1931), da Sociedade das Casas de Asilo da Infância Desvalida. O que comprova, de facto, que não se desiludiu «completamente da marcha dos negócios públicos», fosse na Monarquia, na Primeira República ou durante a Ditadura Militar (António Baião, Op. Cit., pp. 13-14).

António Viana parece ter feito da remissão pública, política e historiográfica do seu avô, Silva Carvalho, um dos objectivos do seu ofício de publicista (mais do que de historiador). Como tantos outros bacharéis formados em Direito durante a segunda metade do século XIX, Viana aventurou-se nos campos da História e da investigação documental com um afã próprio de um terreno ainda não completamente desbravado: o da política liberal do primeiro e segundo cartismos (1823-1826 e 1834-1836).

Nascido em 1858, ter-se-á porventura deparado com os primeiros tentames, mais ou menos recentes, de estabelecer um balanço dos factos, figuras e fontes de tais conturbados períodos: Luz Soriano (1846 e 1849) e Liberato (1855), passando pelos Despachos e Correspondência de Palmela (1851, 1854 e 1869). Aos quais se foram juntando, nos anos seguintes, a Correspondência Oficial do conde da Carreira (com edições em 1871 e 1874), a História de Portugal (1879) e o Portugal Contemporâneo (1881) de Oliveira Martins. Colecções documentais como as de Borges de Castro/Júdice Biker (de 1856 em diante) e a do futuro barão de São Clemente (iniciada em 1883) contribuíam, por seu lado, para uma abundância documental que se poderia considerar já razoável.

Tal como o personagem de A Ilustre Casa de Ramires (1900), Gonçalo Mendes Ramires, Viana terá julgado em causa a honra da família. Com uma abertura de espírito ainda hoje incomum em Portugal, descerrou ao público o espólio familiar, revelando uma imensão de cartas, memórias e documentos escritos por Sílva Carvalho e por ele recebidos. Mas não só: também dedicou grande parte da trilogia José da Silva Carvalho e o seu Tempo à correspondência e papéis oficiais do governo de D. Miguel, numa inteligente e preclara visão histórica de que, sem tal dualidade de fontes, provenientes dos dois lados da barreira que dividiu Portugal durante a guerra civil de 1832-1834, não é possível uma visão de conjunto integradora e equilibrada.

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