Assim sendo, as críticas de Liberato e de Carreira incidiram muito mais sobre Palmela, Saldanha, Mendizábal e Rodrigo da Fonseca do que sobre Silva Carvalho. Aliás, as parcas referências que tanto Liberato quanto Carreira fazem a Silva Carvalho parecem ser sempre respeitosas e amistosas, senão abertamente elogiosas (António Viana, Op. Cit., pp. 110-111, 123 e 372-74 (e n. 1 de p. 372) e Memórias da vida de José Liberato Freire de Carvalho, edição de 1855, pp. 334, 341, 343 e 375 e edição de 1982, pp. 194, 198, 199 e 216). O que não é de estranhar, tendo Carvalho sido o cérebro financeiro (depois de Mouzinho da Silveira) e orquestrador da estratégia liberal pedrista, vencedora em Évora-Monte e derrotada em 9 de Setembro de 1836.

Enfim, trata-se de mais uma polémica historiográfica ainda por resolver, em parte recuperada por João Carlos Alvim, em 1982, quando reeditou – em boa hora! – as Memórias de Liberato, dotando-as de uma introdução problematizante e esclarecedora (vejam-se, a esse propósito, as Memórias da vida de José Liberato Freire de Carvalho, 1982, pp. XIX, n. 13 e XX, n. 15).

Dessa e de outras polémicas, poder-se-á concluir que a fiabilidade das fontes disponibilizadas por Liberato (nesse e noutros títulos), por Palmela, Carreira e Viana não se anulam – antes, complementam-se, complexizam-se, completam-se. E que sem um estudo comparativo dos seus ideários e percursos ideológicos, políticos e culturais, tudo parecerá – continuará a parecer – simples ajuste de contas de contrastantes e contraditórias memórias políticas...

A segunda parte da obra de Viana é constituída por uma tetralogia, sucedendo assim à trilogia dedicada a Silva Carvalho. O conjunto de livros com o título genérico Apontamentos para a História Diplomática, incluindo a respectiva Introdução, demorou quase seis décadas a ser publicado. Três volumes foram impressos entre 1901 e 1922, ainda em vida do autor; o quarto, apenas em 1958, aquando do centenário do seu nascimento (e sob o impulso de António Baião). Cobrem os períodos de 1789 a 1815 (a Introdução...) e de 1820 a 1828 (os restantes volumes). Como é sabido, foi durante esses oito anos que Silva Carvalho e tantas outras figuras liberais conheceram sucessivamente períodos de grandeza e queda, brilhantismo e obscuridade.

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