Boletim da Academia das Ciências de Lisboa, 2ª Série,
Coimbra e Lisboa, 1929 – 1977
3 / 7
A abrangência podia ir de mensal a trimestral; chegou a ser quadrimestral. e mesmo a dizer respeito a cinco meses (em 1968-1973). Já depois do 25 de Abril os números passaram a ser anuais, a partir de 1975, no volume 47. Os volumes de 1975 e de 1976 tiveram edições comparativamente reduzidas, de 260 e 238 páginas; o que já sucedia em 1970 e 1973, isto é, menos de trezentas páginas anuais, em média.
Sendo a ACL uma das instituições académicas mais antigas do país ainda em funcionamento, torna-se naturalmente interessante observar se nesta 2ª série do Boletim existem sinais de vitalidade e actividades internas. Embora integrando nomes famosos da cultura portuguesa – veremos como foram importantes os registos das entradas de sócios ou a sua ascensão na hierarquia académica, bem como os elogios fúnebres de sócios por quem os substituía, numa tradição tão velha quanto a própria Academia – não se pode daí deduzir, porém, que nos milhares de páginas acumulados em tantos anos de publicação se encontrem textos fundamentais das letras e ciências portuguesas do século XX, pelo menos nas áreas da história e da cultura. Tal, aliás, era já um problema que provinha da vida oitocentista da Academia: comprovar como a instituição servia o país sendo palco de intervenções decisivas no progresso do conhecimento histórico e científico do passado. As épocas históricas e os temas culturais eram tão variados quanto os centenários evocados (Montaigne, Racine e Goethe) ou as áreas habitualmente trabalhadas por figuras como Queirós Veloso (séculos XVI a XVII), Afonso de Dornelas (heráldica e falerística), Moises Amzalak (traduções de economistas clássicos britânicos em Portugal), José de Figueiredo (tapeçarias de Pastrana e Damião de Góis crítico de arte) ou Fidelino de Figueiredo (inesperadamente, o cinema de Hollywood), isto para referir apenas textos da década de 1930. Outros exemplos são a história dos descobrimentos, da própria Academia das Ciências e temas de cartografia.
Porém, apesar de podermos encontrar o resumo, em três páginas, de uma comunicação de Vitorino Nemésio sobre «As nossas testemunhas espirituais do Mundo em crise» (Janeiro-Fevereiro de 1961, pp. 40-42), comemorações dedicadas ao quarto centenário dos Colóquios dos Simples de Garcia da Orta (em Março de 1961, pp. 62-67) ou mesmo quase quarenta páginas comemorativas do centenário do nascimento de Eça de Queiroz, em 1945 (Setembro-Novembro, pp. 261-300), as reflexões transcritas não aparentam ser particularmente inovadoras ou reproduzir aquilo que actualmente se considera mais decisivo e marcante sobre tais autores e temáticas.