Boletim da Academia das Ciências de Lisboa, 2ª Série,
Coimbra e Lisboa, 1929 – 1977
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Surgem também análises de momentos históricos específicos da ACL, como textos sobre o percurso do duque de Saldanha enquanto sócio (Novembro de 1949, pp. 346-347) e sobre Garção Stockler, o conde da Ega e Andoche Junot sócios honorários da instituição (Outubro-Dezembro de 1964, pp. 518-520; veja-se a esse propósito José Alberto Silva, A Academia Real das Ciências (1779-1834)… Op. Cit., pp. 85-86). De destacar, por fim, a preciosa série de estampas sobre presidentes, vice-presidentes e outros dirigentes da instituição, desde o seu início, como sucede em vários números referentes aos anos de 1958 e 1959.Os exemplos poderiam se replicados às dezenas.
Após o 25 de Abril de 1974, a ACL parece tornar-se mais permeável às questões políticas do dia (anteriormente surgira, em 1963, um texto sobre a invasão de Goa, pp. 381-384): a 27 de Janeiro de 1975 ocorre a recepção de Léopold Senghor, que profere uma conferência sobre «Lusitanidade e Negritude», na presença do Presidente da República, Costa Gomes, do Primeiro-Ministro, Vasco Gonçalves e do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro. Presidente do Senegal, Senghor é admitido como sócio correspondente nesse mesmo dia (1975, pp. 39-46 e 50-51). E com o novo regime político, abrem-se igualmente as portas da Academia a grandes nomes da literatura, teatro, universidade e cultura nacionais, muitos deles críticos ou opositores ao Estado Novo, como Luiz Francisco Rebello, José-Augusto França, Urbano Tavares Rodrigues, Vasco Magalhães-Vilhena, Maria Helena da Rocha Pereira, José Rodrigues Miguéis, Joel Serrão e Orlando Ribeiro, injustamente impedidos até então de figuraram entre os maiores académicos de prestígio (1975, pp. 78-79, 136-138, 215-216 e 224-226; 1976, pp. 16-17, 67-69 e 97-101).
Infelizmente a sua entrada na Academia sucede numa época em que a publicação do Boletim estava reduzida à sua menor dimensão possível: as intervenções são sumariadas, por vezes num único parágrafo, como ocorre com Maria Helena da Rocha Pereira sobre Pedro Hispano, Luiz Francisco Rebello sobre Teixeira de Pascoaes ou Urbano Tavares Rodrigues sobre Alves Redol (1976, pp. 123-124 e 1977, pp. 179 e 198). Deste modo, intelectuais e académicos parecem poder coexistir em democracia, sendo premiadas carreiras e obras dignas de apreço, já não subordinadas à disciplina da censura prévia nem dos juramentos de fidelidade ao Estado Novo.