Boletim da Academia das Ciências de Lisboa, 2ª Série,
Coimbra e Lisboa, 1929 – 1977
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Não que isso signifique que apenas se pronunciavam palavras de circunstância, ocas de significado. Mas quem cita hoje a segunda série do Boletim da ACL como um marco do seu tempo? Longe ia a época das Memórias de Literatura… ou das Memórias Económicas… – ou, mesmo, as várias séries de História e Memórias…, nas décadas de 1820 a 1850, nas quais havia artigos monográficos de autores de considerável dimensão, por eruditos e historiadores, que os escreviam de raiz (Daniel Estudante Protásio, Estimular o conhecimento histórico?). É possível que essa fosse a função das Memórias da Academia das Ciências, começadas a publicar para as classes das letras e das ciências em 1935 e 1936. No Boletim, 2ª série, o que existe são transcrições – muitas vezes abreviadas – de palestras individuais, de temática aleatória ou colectivas, dedicadas a um evento específico.
Mesmo um autor da craveira de Jacinto do Prado Coelho colabora, em 1962, com um texto sobre a «Presença da França nas letras portuguesas dos séculos XVIII e XIX» (Março-Abril, pp. 123-149). Nesse mesmo ano são dedicadas mais de trinta páginas ao elogio de Gago Coutinho (Janeiro-Fevereiro, pp. 66-101). Mas são os pareceres de admissão de novos membros e, sobretudo, a lista impressionante de figuras da cultura e da historiografia nacionais que mais retêm a atenção: Avelino Teixeira da Mota (Janeiro-Fevereiro de 1959, pp. 92-94); o supracitado Prado Coelho, Lindley Cintra, Guilherme Braga da Cruz e Torquato de Sousa Soares (Março-Abril e Outubro-Dezembro de 1962, pp. 114-122 e 317-320); ou Armando Cortesão e João Ameal (Maio-Julho de 1964, pp. 303-306 e 345-346). Tais dados serão um dia decisivos para o estudo prosopográfico dos sócios da Academia nas décadas de 1930 a finais de 1970, até porque habitualmente cada número da revista referente a Janeiro reproduz os corpos sociais e inclui resumos das assembleias gerais e das sessões ordinárias de classe (duas, de ciências e letras). E para o estudo disciplinar de algumas áreas. Teixeira da Mota, por exemplo, contribui com frequência com artigos de certa dimensão, como «Novos elementos sobre a cartografia de Portugal no século XVIII» (Março-Abril de 1962, pp. 165-184) e «Os portugueses na cartografia antiga da África Central (1550-1800)» (Janeiro-Fevereiro de 1963, pp. 13-27).
Armando Cortesão e Jacinto do Prado Coelho fazem o mesmo, respectivamente, com «Cartografia portuguesa e a Geografia de Ptolomeu» (a inserir na sua História da Cartografia Portuguesa) e com um relatório sobre o IV Congresso Internacional de Literatura Comparada (Outubro-Dezembro de 1964, pp. 388-404 e 470-482).