O Boletim oscila, nas palavras de Teófilo Braga, entre “assuntos puramente literários, como era a leitura de poesias, trechos de prosa e traduções de obras notáveis” (o que propõe e defende), e a “investigação de pontos e questões de mera erudição e estudo, como é em geral a tendência em corporações desta natureza” (vol. I, 1898, p. 60). A primeira linha programática parece vingar, a partir da sessão de 30 de Março de 1898, dado que após a apresentação daquela opção, diminuem as extensas transcrições documentais. As quais, porém, com o passar dos anos, passarão a ocupar a grande maioria das páginas impressas, até ao ponto de praticamente deixar de existir o relato das sessões, admissões e comunicações. Ora, como é apanágio destas narrativas periódicas, constituem elementos essenciais para entender a dinâmica da instituição, no campo das letras, saber quem frequenta as sessões académicas, nelas intervém, é admitido na classe, por que razões e qual a sua progressão na hierarquia (se alguma). Como mais adiante se constatará.
Conforme o tempo progride, existe um crescente atraso na publicação dos volumes (a partir dos XIII e XIV, coincidentes com o final da Primeira Guerra Mundial). O último volume, o XX, divide-se em duas partes, o que era usual, na centúria anterior, com a História e Memórias da ACL. Até o título é alterado, conforme informa o vol. XX, 2ª parte, p. 22: “Nota: este Boletim teve o nome de «Boletim da Segunda Classe» até ao volume XII; no volume XIII mudou o nome para «Boletim da Classe de Letras» até ao volume XV, voltando no XVI a nomear-se «Boletim da Segunda Classe»”.
Podem ser listados alguns dos nomes mais sonantes da classe, de Janeiro de 1898 a Dezembro de 1909. Na 2ª sessão de 1898, a 28 de Janeiro, estão presentes os sócios efectivos Gama Barros, Teixeira de Aragão, Teófilo Braga e os sócios correspondentes Brito Aranha, Consiglieri Pedroso, Gonçalves Vianna, Leite de Vasconcelos e Vasconcelos Abreu (vol. I, 1898, p. 28). São sucessivamente eleitos Christovam Ayres sócio correspondente (1899), Hintze Ribeiro e Veiga Beirão sócios efectivos (1900), Machado de Assis (1904), Júlio Dantas e Carlos Malheiro Dias (1908) sócios correspondentes; Edgar Prestage (1909) correspondente estrangeiro. Em Dezembro de 1909, são emitidos pareceres sobre a admissão de Silva Gaio e de Oliveira Lima. Em Janeiro e Fevereiro de1907 a presidência de sessões é assumida por Hintze Ribeiro (1849-1907), ex-presidente do conselho de ministros e por Júlio de Vilhena, então secretário de Estado (vol. II, 1910, pp. 195 e 201). O que demonstra como continuava a existir, desde a sua fundação, uma porosidade na ACL face aos poderes políticos instituídos e aos intelectuais com protagonismo público.