O ano de 1910 é, logicamente, dedicado ao centenário do nascimento de Herculano. Assim, o fascículo nº 3 do volume III (Fevereiro) é inteiramente preenchido com textos sobre o célebre historiador (pp. 145-279). Os fascículos nºs 1, 3 e 4, contêm o estudo em três partes de David Lopes, “Os árabes nas obras de Alexandre Herculano”, um dos trabalhos iniciais do autor, em que aplica o método filológico e o conhecimento da língua árabe. Também são evocadas as polémicas de Herculano com José Joaquim Costa de Macedo e com António Caetano Pereira.
Pelas páginas de 1911 perpassam novos valores, trazidos a terreiro pela implantação da República. Um deles é o da valorização da mulher na sociedade e cultura. Um verdadeiro dossier é dedicado a Carolina Michaëlis de Vasconcelos, que consequentemente é proposta para sócia correspondente (vols. IV e V, 1911 e 1912). Os tempos são outros, mas parece necessário justificar, com considerável profusão de textos da e sobre a autora, a sua entrada na Academia. Porém, foi Maria Amália Vaz de Carvalho a primeira portuguesa a ser proposta e eleita para “Sócio Correspondente” (sic). O conde de Sabugosa destaca-lhe o papel figurado de ocupante do 41º fauteuil dos imortais da Academia Francesa, pela sua presença, no tempo de D. Luís, no convento de Jesus, sede da ACL. Sabugosa, um dos Vencidos da Vida, recusa a exclusão de mulheres nas “corporações científicas, literárias e académicas, ou fosse no claustro pleno da Universidade, ou nas profissões liberais, ou nas ordens militares honoríficas, ou nos cenáculos das letras” (vol. VI, 1912, pp. 474-483).
Pelos anos de 1917 e de 1918 ocorre, no seio da classe, uma polémica sobre a norma regulamentar comum a este tipo de instituições, a da elevação ou promoção de sócios correspondentes e efectivos (durante o século XIX, na ACL, de livres para efectivos). Na sessão de 22 de Fevereiro de 1917, são lidos pareceres de Cândido de Figueiredo e de Henrique Lopes de Mendonça sobre propostas de dois novos sócios efectivos, Afonso Costa (ex-presidente do ministério) e Bernardino Machado, então presidente da República (vol. XI, 1916-1917, pp. 42-46). O que merece ao presidente da classe, Joaquim José Coelho de Carvalho, o lamento que “que se não preferisse para preencher a vaga algum dos sócios correspondentes da Academia, candidatos natos à efectividade” (Idem, p. 39). A 8 de Março discute-se se é letra morta o artigo 1º do regulamento de 1-7-1868, pelo qual os sócios correspondentes eram considerados “candidatos natos” a posições de sócios efectivos. Júlio Dantas afirma que para além da regulamentação, havia a considerar a «velha praxe» de assim serem entendidas as precedências para lugares de efectivos (Idem, pp. 48-49).