Em 1919, o filósofo Leonardo Coimbra, ministro da Instrução do governo de Domingos Pereira, criava a primeira Faculdade de Letras do Porto, uma instituição universitária ímpar e inovadora, numa universidade tradicionalmente especializada em domínios científicos. Foi do Instituto de Estudos Históricos desta faculdade que saiu a direcção e grande parte da colaboração da História de Portugal, conhecida como «de Barcelos», a primeira história do país escrita por académicos. A Faculdade de Letras da Universidade do Porto seria extinta em 1928, funcionando ainda até 1931, permitindo a conclusão das licenciaturas aos estudantes ingressados em 1927.
A Revista de Estudos Históricos é considerada a primeira revista universitária de História que se publicou em Portugal. Nascida no seio do Instituto de Estudos Históricos da primeira Faculdade de Letras do Porto, esta publicação era dirigida por Damião Peres, reitor interino e professor da faculdade. O primeiro número seria duplo e datado de Janeiro a Junho de 1924. Apesar de se intitular, durante a fase inicial, uma revista trimestral, na verdade só o foi durante o primeiro ano. No ano seguinte, tornou-se quadrimestral e, em 1926, último ano da sua publicação, só seria publicado um único número triplo.
Numa primeira análise, esta publicação foi composta por dez números editados durante três anos. Estranhamente, os três últimos, que se reportam ao ano de 1926, contêm um conjunto de recensões críticas a obras publicadas nos dois anos seguintes, todas elas assinadas por Damião Peres, num segmento intitulado «Bibliografia». Dos mesmos exemplares consta, ainda, um artigo de Ludovico de Meneses datado de Abril de 1928. Tal observação leva-nos a crer que os últimos volumes não correspondem verdadeiramente à data da sua publicação, só possível a partir do final de 1928 ou início de 1929. Desconhecemos as razões deste desfasamento e desta visível incoerência. As evidências sugerem-nos, contudo, uma publicação temporalmente mais alargada do que os três anos sugeridos pela datação constante nas capas. Publicada no Porto, esta revista, dirigida a académicos, não era seccionada. Da mesma forma, desconhecemos outras características, como a sua tiragem e o preço de capa. Graficamente, o periódico era pouco atractivo, nele surgindo, esporadicamente, ilustrações de moedas, artefactos, peças, mapas e documentos, figuras de carácter puramente técnico.