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FRANÇA, José-Augusto Rodrigues | |||||||||||||
Em 1949, quando tinha 27 anos, publicou o opúsculo Balanço das Actividades Surrealistas em Portugal, em que dá conta das actividades do Grupo Surrealista de que fora um dos fundadores, o que significa que entra na História da Arte pela via da crítica da arte. Como é próprio deste domínio, o seu “balanço” é parcial (considerará sempre que os seus amigos pintores foram figuras determinantes da cena artística) e militante, contra a cultura do Estado Novo, mas também contra o Neo-Realismo, apoiado pelo Partido Comunista. Para ele, o cerne da arte era a imaginação que não podia ser posta ao serviço de programas políticos ou de militâncias ideológicas. Ao longo da década de 1950, densificou a sua reflexão sobre a arte contemporânea em Portugal, ainda a partir do seu compromisso com a arte do seu tempo: publicou, em 1957, o primeiro estudo sistemático sobre Amadeo de Souza Cardoso, que relançou a obra do pintor até então quase esquecido,considerando-o o único artista vanguardista português e, no âmbito das actividades da Galeria de Março, aproximou-se de muitos artistas, dos mais velhos (Almada ou Botelho, por exemplo) aos mais jovens. Em relação a estes, ampliando o entusiasmo pelo surrealismo da sua juventude, interessou-se especialmente pelos pintores do Abstraccionismo que passou a considerar o destino superior do Modernismo, de acordo com a teoria da arte internacional de então. Nesse tempo de grande criatividade, editou a revista Córnio (Unicórnio, Bicórnio, Tricórnio, Tetracórnio e Pentacórnio) em que, entre outros, participaram António Sérgio, Eduardo Lourenço e Jorge de Sena. Não se pode deixar de citar também o ensaio Charles Chaplin. O Self-Made-Myth, editado em Paris, 1957, que se inscreve na sua continuada paixão pelo cinema. Este percurso, ecléctico e abrangente, manifesta o desejo de entender o presente como mola propulsora da descoberta da História. Deste modo, quando, em 1959, se tornou bolseiro do estado francês para se dedicar plenamente à História da Arte, França estava auto-formado: a arte interessa enquanto facto de civilização e é a partir da produção contemporânea que se constroem os ciclos do passado. Como discípulo de Pierre Francastel (Paris, 1900-1970), o fundador da Sociologia da Arte, tornou-se Doutor em História em 1962, com o estudo Une ville des lumières: la Lisbonne de Pombal, obra fundadora da nova História da Arte Portuguesa, pelo rigor metodológico e o carácter inovador da tese: a “Lisboa de Pombal” era um corte epistemológico com a cidade antiga, em parte destruída pelo terramoto de 1755, e um facto artístico total que, quase inopinadamente, permitia a Portugal ocupar um prestigiado lugar na cultura internacional do Iluminismo. Em 1969, obterá o grau de Doutor em Letras com Le romantisme au Portugal onde afirma outros importantes vectores da sua praxis: a importância da literatura na cultura portuguesa, considerada indispensável para balizar os ciclos artísticos; a centralidade do século XIX para compreender os fracassos do século XX; a exaustividade da investigação centrada em factos e personalidades maiores de pintores, escultores e arquitectos. Paralelamente a este percurso académico, JAF continuou a escrever crítica da arte em L’Art d’Aujourd’hui o que lhe exigiu ver exposições, conhecer artistas e tomar partido, activando uma escrita cada vez mais ágil e arguta que vivificou a reflexão académica. Esta sólida tessitura entre História e Crítica manifestou-se também no brilhantismo com que dirigiu a revista da Fundação Calouste Gulbenkian, Colóquio Artes (1971-1997): sobretudo na sua primeira década, ela foi o repositório das dinâmicas da arte contemporânea em Portugal, especialmente da pintura e escultura. À volta desta revista - articulada também com a criação da AICA portuguesa, e com a promoção de importantes exposições - França impulsionou a carreira de alguns artistas (Noronha da Costa e Joaquim Rodrigo, por exemplo) e rodeou-se dos seus primeiros discípulos, sobretudo Rui Mário Gonçalves e Fernando Pernes, além da cumplicidade antiga com Fernando de Azevedo que, a par da actividade de crítico de arte, continuou a ser um dos pintores que França mais amou. É neste ciclo de relacionamentos, que, ainda nos anos 60, realizou, na SNBA, um primeiro curso de conferências sobre “História da Arte Ocidental e Portuguesa”, coincidindo com a preparação da monumental Arte portuguesa no século XIX, 1967. Esta continua a ser obra de referência na academia e entre os públicos interessados, estimulando, através do seu inesgotável levantamento de fontes impressas, o aprofundamento de estudos e redireccionamentos da pesquisa. |
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