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FRANÇA, José-Augusto Rodrigues | |||||||||||||
Nesta vastíssima produção (que, a partir dos anos de 1990, conhecerá várias reedições, por vezes reactualizadas) JAF continuou a praticar uma História da Arte profundamente comprometida com a conceptualização da Sociologia da Arte, influenciada por Francastel mas progressivamente autonomizada numa teorização “franciana”: a história da arte exige metodologias próprias de trabalho em que distingue a indispensabilidade da análise formal e a consciência estética como marcas próprias e diversas de outros domínios da História. Dito de outra maneira e usando os conceitos que lhe foram mais caros, ele definiu três níveis de trabalho do historiador: o estudo dos «factos artísticos», a sua valorização como «factos sociais» e a sua tessitura em contextos mais amplos que designa por «vida artística». Ou nas suas próprias palavras: “Uma leitura estética fundada numa consciência «gestáltica» e uma integração sociocultural tendo por eixo um processo estruturalizante, quer dizer dinâmico e global, assim se impõem como condições do conhecimento da obra de arte nas suas relações dialécticas com a sociedade ao mesmo tempo determinante de tais valores e por ela determinada. A sobreposição desta leitura e desta integração, em relações de dosagem mutável, poderá definir, em conclusão, o método historiográfico que aqui se propõe”.(FRANÇA, 1997: 101). O traço mais relevante deste procedimento encontra-se na convicção de que o conhecimento, estudo e valorização da arte contemporânea é um veículo fundamental para se entender os ciclos artísticos do passado. Esta é uma posição de ruptura em relação às práticas anteriores da história da arte em Portugal que, sistematicamente, ignoraram ou não compreenderam, a arte do século XX, e é o acto inaugural de um novo ciclo historiográfico relacionada com a valorização do “presente” na epistemologia das ciências sociais. Manifesta também uma atitude política em relação a uma visão e prática da história centrada nos “períodos nobres” fossem eles a Idade Média ou a aurora da Idade Moderna, em que a história da arte em Portugal predominantemente se situara. JAF foi sempre um homem de oposição ao Estado Novo, inscreveu-se no Partido Socialista depois do 25 de Abril e, embora nunca tenha sido um militante activo, foi um cidadão de confrontos e de causas, defendendo a urgência de uma cultura contemporânea, sintonizada com os valores mais dinâmicos das grandes cidades europeias, mas também a obrigação de defender e valorizar a memória e os patrimónios. Esta atitude, com deliberada postura ética, afirmou-a sobretudo em Lisboa, em diversas iniciativas que envolveram a investigação, a escrita académica e de divulgação, algumas exposições e uma colaboração regular com a Câmara Municipal de Lisboa para defender e proteger a arquitectura oitocentista e primo-novecentista, quando ela era ainda objecto de sistemático desinteresse. |
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